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As dificuldades da Tesla e da expansão dos carros elétricos

12/01/2018

Fonte: Valor Econômico

Elon Musk compreende as leis da gravidade melhor do que a maioria dos executivos-chefes. Talvez seja por isso que sua montadora de carros, a Tesla, pareça ter encontrado uma forma de desafiá-las. Em julho, o bilionário tuitou despreocupadamente que em dezembro a Tesla estaria produzindo 20 mil unidades por mês de seu modelo de carro elétrico Model 3.

Passados seis meses e vários contratempos na linha de produção, a Tesla anunciou na semana passada que havia produzido apenas 2.425 unidades em todo o quarto trimestre de 2017.

Pela segunda vez em dois meses, adiou sua meta de produzir 5 mil unidades do Model 3 por semana em mais três meses, desta vez para o fim de junho.

O mercado, no entanto, mal piscou. As ações da Tesla caíram pela manhã na sessão do dia 4 deste mês, mas por volta do meio-dia já haviam se recuperado. São más notícias para os muitos investidores que apostam pesadamente contra as ações da empresa, que segundo estimativas da Bloomberg gastou cerca de US$ 8 mil por minuto de seu caixa em 2017. São ainda piores, no entanto, para as mais de 400 mil pessoas que fizeram um depósito de US$ 1 mil para comprar o carro de US$ 35 mil.

“Não posso mais suportar tantas falhas”, reclamou um membro do fórum on-line Clube de Donos do Tesla Model 3, depois da notícia dos novos atrasos ter saído no meio da semana. “Não vou me sujeitar de novo a essa agonia.”

Para o resto de nós, há uma questão mais preocupante: Se o Model 3 fracassar, será que pode levar junto consigo o resto da indústria de carros elétricos?

À primeira vista, isso parece improvável, levando em conta o que parece ser a ascensão contínua do setor, uma decolagem que parece estar alimentada por muito mais do que apenas a empresa de Musk.

Em 2014, havia menos de 1 milhão de carros elétricos nas ruas. Em 2016, o número chegava a 2 milhões. Ainda é menos de 1% da frota mundial de automóveis, mas as vendas voltaram a avançar a passos largos em 2017. No terceiro trimestre, subiram 60% em relação ao mesmo período de 2016.

A China alimenta grande parte desse crescimento, dentro dos esforços para combater seus níveis de poluição, mas não está sozinha. Reino Unido e França anunciaram planos para proibir as vendas de veículos a gasolina a partir de 2040. As vendas de carros a diesel já começam a despencar em alguns países, na esteira do escândalo da fraude da Volkswagen.

No fim de 2017, as vendas mensais de novos veículos a diesel no Reino Unido caíram mais de 30% nas comparações com os mesmos meses do ano anterior. Por outro lado, as vendas de carros híbridos e elétricos, aumentaram 33%.

Na semana passada, a Noruega cimentou sua posição como superpotência mundial dos carros elétricos. Mais da metade dos carros novos vendidos no país em 2017 eram elétricos ou híbridos. É o primeiro país do mundo a atingir essa marca, embora o sucesso tenha sido impulsionado por pesados subsídios cuja redução agora é defendida por alguns políticos.

É aqui que o futuro do Tesla Model 3 torna-se bem mais relevante. A expansão do mercado de carros elétricos foi alimentada em grande medida por subsídios em muitos países, mas a pressão para que se reduza esse apoio vem aumentando. Há sinais de esforços para reduzir ou acabar gradualmente com os subsídios em países como os EUA e a China. Isso indica que está se tornando imperativo para a indústria dos carros elétricos produzir carros acessíveis que possam concorrer com os de motores convencionais sem auxílio público.

As principais montadoras do mundo, sem dúvida, entraram no mercado de veículos elétricos com muito mais rapidez do que se previa, depois de os modelos anteriores de Musk – mais caros – terem se mostrado um sucesso entre os clientes.

O Model 3 já enfrenta a concorrência do Leaf mais recente da Nissan e do Bolt da Chevrolet. A Volvo diz que todos seus novos modelos vão ser híbridos ou elétricos a partir de 2019. A Toyota planeja ter uma versão elétrica ou híbrida de todos seus modelos a partir de 2025.

Se os subsídios secarem e a Tesla se tornar um exemplo das dificuldades de se produzir esses veículos com rapidez e a preços baixos, há chances, no entanto, de que o entusiasmo de alguns fabricantes pelo futuro dos carros elétricos possa perder força.

As pressões para restringir a poluição do ar e as emissões de combustíveis fósseis podem manter as vendas mundiais de carros elétricos em alta, mas não está claro se isso vai continuar no ritmo atual.

Ainda é cedo demais para tirar o Model 3 de cena. Musk tem histórico de fazer promessas grandes demais, mas de no fim cumpri-las. Ele tem crédito de sobra pelo que fez até o momento. Agora, ele vai precisa mostrar, e rápido, que pode fazer ainda mais.

O Minaspetro divulga notícias de outros veículos como mera prestação de serviço. Esses conteúdos não refletem necessariamente o posicionamento do Sindicato.