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Bolsonaro vê alta ‘inadmissível’ do gás e ação da Petrobras cai

08/04/2021

Fonte: Valor Econômico

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que é “inadmissível” a Petrobras reajustar o preço do gás em 39%, como anunciou que faria nesta semana. A fala teve efeito negativo imediato nas ações da companhia e contribuiu para uma alta do dólar em relação ao real.

O presidente fez as afirmações em Foz do Iguaçu, horas antes de um jantar com empresários em São Paulo. A fala ocorreu diante do futuro presidente da companhia, Joaquim Silva e Luna, na solenidade em que ele deixou o cargo de diretor-geral brasileiro de Itaipu. O posto na hidrelétrica binacional foi transferido a outro general, João Francisco Ferreira.

Dirigindo-se a Silva e Luna, Bolsonaro defendeu que haja previsibilidade sobre reajustes.

É inadmissível anunciar agora, o velho presidente ainda, um reajuste de 39% no gás. É inadmissível!”

“Ele [Silva e Luna] sabe que é uma empresa que, mais do que transparência, tem que ter previsibilidade. É inadmissível anunciar agora, o velho presidente [Roberto Castello Branco] ainda, um reajuste de 39% no gás. É inadmissível!”, queixou-se Bolsonaro. “Que contratos são esses? Que acordos foram esses? Foram feitos pensando no Brasil? Em um período de três meses?”, questionou.

Em seguida, Bolsonaro negou a intenção de “interferir” na companhia, embora estivesse pregando uma interferência. “Não vou interferir, a imprensa vai dizer o contrário. Mas podemos mudar esta política de preços lá”, afirmou.

Bolsonaro relatou que a decisão de indicar o general para a Petrobras foi tomada por ele. E que fez por telefone o convite a Silva e Luna, que aceitou prontamente.

“Eu falei a ele, a barra é pesada, vai entrar em uma empresa que precisa, cada vez mais, se entender como a maior estatal do Brasil, responsável pela nossa energia, o petróleo”, pontuou.

Bolsonaro lembrou a reação do mercado à demissão do economista Roberto Castello Branco, com queda nas ações e alta na cotação do dólar, como ocorreria ontem.

Depois, enfatizou a necessidade de mudança também na forma de cobrança de ICMS dos combustíveis pelos Estados, tema que será tratado em um novo projeto a ser enviado ao Congresso. O presidente defendeu valor fixo do tributo, e não percentual.

“A previsibilidade é para vocês, consumidores”, defendeu. “Não pode toda vez que sobe o preço do combustível mais alguns centavos, estes centavos serem multiplicados na ponta da linha pela voracidade na arrecadação de imposto. Não pode toda vez que diminui o preço do combustível, na bomba, no final, ele não diminuir.”

O presidente, então, clamou por “ajuda do Congresso” para mudar a fórmula de taxação. “Estou pedindo algo de anormal, querendo interferir em uma estatal? Ou querendo transparência?”, indagou.

O discurso teve implicações imediatas sobre as ações da Petrobras. Os papéis ordinários da empresa (ON, com direito a voto em assembleias) chegaram a subir 1,56% pela manhã. Porém, desaceleraram a alta para 0,46%. Já as ações preferenciais (PN, conferem preferência por dividendo), fecharam em queda de 0,08%, após terem subido 1,33% durante o dia.

O dólar à vista, por sua vez, fechou em alta de 0,74% em relação ao real, na contramão do que ocorreu em comparação a moedas do mundo todo. A divisa americana fechou o dia valendo R$ 5,6404.

Do Paraná, Bolsonaro voou para São Paulo, onde teria um jantar com empresários. A intenção dos executivos era focar no que o setor privado acha que é consenso no mercado: aceleração da vacinação e aprovação de pautas econômicas mais factíveis à realidade atual.

Ao Valor o empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo, disse que não é hora de insistir em pautas ideológicas. “Queremos encorajá-lo a levar adiante a aprovação da reforma administrativa mais ousada, privatizações e na melhoria do ambiente de negócios.”

Rocha é um dos empresários apoiadores de Bolsonaro e tem livre trânsito em Brasília. Nos últimos meses, organizou vários encontros em sua casa para dar apoio ao atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Um dos defensores da reforma tributária, Rocha acredita que essa pauta não deverá passar este ano. “Não é consenso.”

Para ele, as pautas ideológicas defendidas pelo presidente, como armamento da população e ensino doméstico, não são prioridade neste momento.

No jantar, organizado por Washington Cinel (dono da empresa de segurança Gocil), também estariam o banqueiro André Esteves, fundador do BTG Pactual, Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho de administração do Bradesco, Cândido Pinheiro, da Hapvida, Carlos Sanchez (farmacêutica EMS), João Apolinário (Polishop), Cláudio Lottenberg (Albert Einstein).

Segundo Rocha, três pesos-pesados confirmaram presença no evento: José Isaac Peres (Multiplan), David Safra (Banco Safra) e Rubens Ometto (Cosan).

Boa parte não faz parte da extensa lista de economistas, banqueiros e industriais que foram signatários à carta-aberta cobrando do governo federal medidas efetivas de combate à pandemia.

“Mas há um consenso do setor privado, inclusive dos signatários da carta, de que o governo tem de focar saúde e na agenda econômica”, disse Rocha, que não assinou o documento.

O Minaspetro divulga notícias de outros veículos como mera prestação de serviço. Esses conteúdos não refletem necessariamente o posicionamento do Sindicato.
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