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Concorrência aumenta oferta de serviços e reduz taxas de máquinas de cartão de crédito e débito
14/11/2014
Da líder às novatas, as companhias que registram as transações via cartões de crédito e débito — no jargão do mercado conhecidas como empresas de adquirência — apostam nas micro e pequenas firmas para crescer no país, com o fim da exclusividade que Cielo e Rede (ex-Redecard) das bandeiras Visa e Mastercard, em vigor até 2010.
Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o volume de transações com cartões subiu 17,2% no primeiro semestre do ano, alcançando R$ 980 bilhões. As estratégias para lutar por um mercado desse tamanho vão desde oferecer melhores taxas à introdução de serviços que vão além da tradicional máquina de cartões de crédito e débito.
Implementado no mercado em agosto desse ano, o Bin, da multinacional First Data, é o serviço “caçula” do setor. A nova maquininha ainda tem participação pequena, de apenas 500 lojas. No entanto, a meta da multinacional, presente no Brasil há 12 anos e estreante no serviço, é ambiciosa: conquistar entre 7% e 10% de participação de mercado nos próximos cinco anos. Para isso, aposta principalmente em novos produtos e melhor atendimento para se diferenciar da concorrência.
— Nosso diferencial vai ser o tablet Clover (previsto para ser lançado no ano que vem), pelo qual o cliente vai poder administrar o estabelecimento remotamente. Poderão ser criados diversos aplicativos baseados em Android. Uma manicure, por exemplo, pode controlar custo de esmalte no salão de beleza pelo aparelho — adianta Henrique Capdeville, vice-presidente comercial de adquirência da First Data Brasil.
A implantação do Bin foi resultado de um investimento de mais de R$ 330 milhões nos últimos dois anos. A empresa, que opera Visa e Mastercard, cobra taxas no crédito que vão de 2,69% a 3,45%, dependendo do tipo de negócio. Segundo a companhia, 50% dos consultores são dedicados a vender para pequenas e médias empresas (que faturam até R$ 2 milhões).
Também com participação modesta no mercado e no mercado desde 2012, a Payleven segue a mesma linha da First Data, ao tentar prever que tipo de serviços, além do básico, podem fazer mais sucesso no pequeno varejo. A mais recente ação da empresa foi firmar uma parceria com a OnePay, especializada no serviço de recarga de celular. O equipamento aceita crédito, débito e ainda serve para recarregar telefones pré-pagos, o que pode ser um diferencial para o pequeno comércio.
Presente em 40 mil estabelecimentos, a companhia tenta emplacar novos aparelhos para encantar clientes. O carro-chefe do cardápio da empresa é um leitor de cartão compacto, que cabe no bolso — voltado para empreendedores que valorizam mobilidade. O modelo de pagamento também é diferente. Em vez de aluguel, o cliente compra a máquina, que hoje sai por 12 parcelas de R$ 12,99.
Para Adriana Barbosa, fundadora da Payleven, há uma lacuna a ser preenchida no atendimento aos pequenos empreendimentos. Para ela, as grandes adquirentes pecam por falta de agilidade e de proximidade com o cliente. Entre as promessas da companhia, que admite que “não quer competir com as grandes”, está oferecer a máquina de cartão em até dois dias após o pedido inicial.
— Os novos adquirentes estão se posicionando agora. Já teve uma evolução considerável. Muitos deles começaram em 2011 e 2012, e agora conseguem ter uma relevância maior. O foco da Payleven não é competir com os grandes. É no negócio que tem um faturamento abaixo de R$ 15 mil por mês — afirma Adriana.
ELAVON: TAXA MENOR PARA COMPENSAR FALTA DE BANDEIRAS
Outro nome novo no mercado, a Elavon começou a operar no Brasil em agosto de 2012, mas firmou a presença em maio do ano passado. Parceira do Citibank, a companhia também concentra boa parte dos esforços para atrair os pequenos negócios. Um time dedicado é responsável por vender especificamente aos pequenos empreendimentos, inclusive oferecendo a máquina a estabelecimentos que já alugam equipamentos concorrentes.
Foi o que aconteceu com a empresária Ana Maria Elias, dona da loja de roupas Kampala, em São Paulo. Há um ano, ela acabou optando pela Elavon, que, na época, oferecia taxas mais baixas que as cobradas por Cielo e Rede. Ela conta que chegava a pagar 3,65% no crédito quando usava as duas máquinas, e, com a Elavon, reduziu o custo para 2,91%. A contrapartida foi perder o acesso a algumas bandeiras, que têm parceria com a Cielo, como American Express e Elo.
— Percebi que quem tem Amex (American Express) normalmente tem outros cartões. Já a Elo é mais usada para débito, então, quando a pessoa vinha com o cartão, oferecia desconto no dinheiro. Vi que ia perder com menos bandeiras, mas ganhar no valor de taxa de administração — conta Ana Maria.
No Rio, Carlos Vianna, dono do restaurante Pistache, em Botafogo, Zona Sul do Rio, também foi abordado pela equipe da Elavon, mas preferiu manter a máquina da Cielo.
— A Elavon hoje pratica as melhores taxas, mas não tem todas as bandeiras. Não atende American Express, Visa Vale e outras cartões de alimentação. Trabalho com a Cielo há 15 anos e com a Elavon desde o ano passado — afirma o empresário.
CIELO: 1,3 MILHÃO DE CLIENTES SÃO PME
Os acordos que ainda permanecem, mesmo com a abertura de 2010, são vistos hoje como um dos principais obstáculos para garantir maior concorrência no setor. A expectativa do mercado é com um projeto do Banco Central que deve regular a chamada interoperabilidade de bandeiras, ou seja, fazer com que todos os adquirentes possam trabalhar com todas as bandeiras.
— Hoje se encontra pequena e média empresa com três maquininhas, cada uma passa uma bandeira. O lojista tem que ter três linhas dedicadas e paga três aluguéis. Isso é um absurdo, em lugar nenhum do mundo temos isso. Gera um custo que pode chegar a mais de R$ 300 por mês — destaca Pedro Coutinho, do GetNet, serviço do Santander que tem 6% de participação de mercado.
Segundo o executivo, o serviço nasceu com o foco em pequenas e médias empresas. A mobilidade também é um dos atrativos nos quais a empresa investe: dos 400 mil clientes ativos da companhia, 100 mil são usuários do dispositivo que acopla o leitor de cartão ao celular.
Apesar da entrada de novas empresas, o setor ainda é liderado com folga pela Cielo. A empresa, que tem como maiores acionistas os bancos Bradesco e Banco do Brasil, respondeu por 54,6% do volume de transações do segundo trimestre, segundo dados da Abecs e do balanço financeiro da companhia. Mesmo com clientes maiores, a empresa diz que o foco principal para o crescimento são as pequenas empresas.
Hoje, a Cielo tem cerca 1,5 milhão de clientes ativos, dos quais 1,3 milhão são micro e pequenas empresas. Em relação ao faturamento, no entanto, as grandes empresas ainda respondem pela maior fatia, percentual não revelado pela companhia, que restringe o acesso a algumas informações, por ser de capital aberto.
— É o portfólio que mais cresce, principalmente do ponto de vista de novos clientes. Os novos clientes entram nesse segmento. A maior parte dos comércios médios e grandes já estão no mercado — diz Eduardo Chedid, vice-presidente comercial de varejo da Cielo.
Fonte: O Globo