Voltar

Notícias

Graça Foster – Estilo severo e franqueza são sua marca

08/03/2013

Eleita no ano passado uma das executivas mais poderosas do mundo pela revista “Fortune”, Maria das Graças Silva Foster, ou Graça, como é chamada, está há apenas um ano na presidência da Petrobras, mas já está deixando uma marca forte na maior estatal da América Latina.
É uma “workaholic” que chegou a ficar sem tirar férias durante cinco anos e do tipo que trabalha, declaradamente, de 16 a 18 horas por dia, capaz até de marcar uma reunião às 6h30 da manhã em um domingo. Gosta de controle, de estar informada e pode ligar diretamente para um funcionário de terceiro escalão se o chefe dele não estiver acessível no momento em que ela quiser perguntar alguma coisa. “Procuro me preparar com antecedência independentemente de se tratar de reunião interna, externa, de rotina, potencialmente tensa ou conturbada”, diz.
A pressa e o zelo se justificam. A executiva assumiu a presidência da Petrobras, em fevereiro do ano passado, tendo como desafios colocar a gigante de volta ao prumo. Foi a primeira mulher a comandar a maior empresa do Brasil em receitas, e uma estatal. Em 2012 a receita com vendas da Petrobras foi de R$ 281,38 bilhões, quase nove vezes maior que a da Ambev, que com receitas de R$ 32,23 bilhões desbancou a estatal como companhia com maior valor de mercado na Bovespa. Antes disso presidiu a BR Distribuidora – de fevereiro de 2006 a setembro de 2007 – e depois a área de gás e energia da estatal.
A empresa que Graça comanda tem um plano de investimentos desafiador. São US$ 41,7 bilhões por ano se forem considerados apenas os projetos em fase de implementação e orçados em US$ 208,7 bilhões no plano estratégico 2012-2016, alguns com grande compromisso de ser feitos no país. A empresa enfrenta uma queda da produção de petróleo e gás no Brasil, atraso na entrega de plataformas e de refinarias e uma escalada nos custos. Também tem um plano de desinvestimento no exterior que é importante para desafogar o caixa e manter o foco na exploração do pré-sal brasileiro.
Negociar usando doses de pressão com fornecedores de serviços, estaleiros e fabricantes de equipamentos não foi o único trabalho de Graça Foster desde que assumiu a presidência da Petrobras. Ela conseguiu que o governo, acionista controlador da companhia, autorizasse cinco aumentos nos preços da gasolina e do diesel em um prazo de oito meses, o que foi considerado uma vitória. Mesmo assim, ainda não são suficientes para reduzir o prejuízo com a venda de combustíveis, responsável pelo prejuízo de R$ 23 bilhões da área de abastecimento.
Apesar das críticas sobre o uso da Petrobras como instrumento de política macroeconômica, Graça elogia a estratégia do governo para enfrentar a crise e atribui o aumento de consumo no país ao que considera uma harmonia entre as políticas sociais e as de natureza econômica. “Práticas voltadas ao controle da inflação, aos juros mais baixos, à valorização dos salários e o consequente maior poder de compra de diferentes camadas sociais têm efeitos positivos e fortalecem os pilares que sustentam o crescimento de nossa economia”, avalia.
Logo que assumiu o cargo, Graça começou a articular mudanças na diretoria. Mas foi na apresentação do plano de negócios da empresa, poucos meses depois, que seu estilo ficou evidente. Apontou com gráficos as metas de produção de óleo e gás que não vinham sendo cumpridas, os projetos em atraso, os custos excessivos e prometeu mais realismo. Ficou famosa uma frase sua dizendo que o ambiente na Petrobras em sua gestão é de “desconforto 365 dias por ano”.
“Procuro me preparar com antecedência independentemente de se tratar de reunião interna, externa, de rotina, potencialmente tensa ou conturbada”
Isso quer dizer que, sob seu comando, a companhia ia deixar de lado a inércia. Entre os funcionários, seu estilo é comparado a um trator, e isso nada tem a ver com a imponência dos seus 1,78 m de altura. Introduziu metas para aumentar o desempenho e a integração de todas as áreas e tem feito o possível para retomar a confiança do mercado financeiro. Neste ano, prometeu ter mais contato com analistas de bancos depois que a estatal anunciou uma mudança no pagamento de dividendos que desagradou aos acionistas minoritários. O estilo de Graça é duro, mas a franqueza, uma de suas características mais marcantes, é bem-vista e parece chamar a atenção também no exterior. Além da “Fortune”, a executiva também figurou em rankings de mulheres feitos pelas revistas “Time” e “Forbes”.
Como ninguém é de ferro, Graça permite-se usufruir um dos seus grandes prazeres: o Carnaval. Desfila na sua escola de samba predileta, a União da Ilha, que tem o nome do bairro onde morou até os 12 anos e para onde a família se mudou vinda do morro do Adeus, parte do complexo de favelas do Alemão, no Rio. Outro prazer são esportes. Ela gosta de esquiar, mergulhar e velejar. No Rio, quando tem tempo, costuma fazer caminhadas de oito quilômetros na praia – distância de ida e volta entre o Leme (Copacabana) e o Arpoador (Ipanema).
Com dois filhos adultos, Flávia e Colin, essa mineira de Caratinga, que fará 60 anos em agosto, foi mãe muito jovem. Tanto que já tem uma neta de 17 anos. Um hábito que ela não dispensa é o de tomar vinho quando chega em casa à noite. Também adora a companhia de seus quatro gatos da raça Maine Coon, considerados os gigantes da espécie. Também adora ouvir música, de preferência Beatles e Janis Joplin, de quem conhece todas as músicas. Livros, só os técnicos e relatórios de trabalho, pois acha romances uma “perda de tempo sem fim”.
O Minaspetro divulga notícias de outros veículos como mera prestação de serviço. Esses conteúdos não refletem necessariamente o posicionamento do Sindicato.