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Óleo do xisto pode custar dois terços menos que o petróleo

08/07/2013

Uma estimativa de uma consultoria internacional Pricewaterhouse Coopers aponta que as reservas de xisto – mineral do qual se pode obter gás natural e um óleo com características e propriedades semelhantes ao petróleo – seriam suficientes para manter o consumo mundial por até 300 anos. A mesma organização afirma que as reservas mundiais do mineral seriam 13 vezes maiores do que as de petróleo tradicional.
Conforme O TEMPO mostrou na edição de ontem, o xisto tem sido largamente utilizado nos EUA e é considerado por especialistas como um dos grandes responsáveis – se não o maior – pela retomada econômica do país. O gás natural gerado pelo xisto tem chegado às indústrias com menor preço, o que reativou parte do setor. Além disso, após o boom da produção de combustível do mineral, os norte-americanos reduziram a importação do petróleo.
Atualmente, os custos de produção de um barril de óleo combustível obtido a partir do xisto giram em torno de US$ 70 a US$ 100. O pré-sal, menina dos olhos da Petrobras, tem um custo médio de produção de US$ 100 por cada barril de petróleo.
A Pricewaterhouse Coopers afirma, entretanto, que o valor de cada barril produzido via xisto pode ser reduzido para até US$ 35. Gerado a partir do aquecimento de pedras do mineral, o óleo poderia ter seu custo reduzido a partir de aquecedores alimentados por eletricidade obtida pelo gás, geralmente abundante nessas áreas. Porém, a tecnologia, pesquisada em Israel, ainda não tem data para sair do papel.
POSSIBILIDADES
Embora tenho ganho mais notoriedade recentemente, o xisto já vem sendo pesquisado desde a crise do petróleo, na segunda metade da década de 1970. Em um estudo acadêmico datado de 1978, o professor Armand Frutuoso Pereira, da Fundação Getúlio Vargas, destaca que os sub-produtos do xisto também são uma boa alternativa econômica.
“Além do óleo combustível, o xisto pode ser utilizado para produzir gás, eletricidade, enxofre, amônia, coque, cimento, tijolos e até alumínio. Esses produtos, contudo, dependem das propriedades do xisto e da tecnologia usada”, afirma o artigo de Pereira.
O professor afirma ainda, no texto, que os estudos preliminares com o xisto começaram por volta de 1840.
Tecnologia reduziria impacto
Se, de um lado, há a defesa do uso do xisto como uma nova forma de driblar as limitações das reservas de combustível fóssil mundo afora, de outro, há a preocupação ambiental. A mineração para a obtenção do óleo – usada no Brasil – e a técnica de fraturamento da pedra por meio de água, areia e produtos químicos sob alta pressão – técnica utilizada nos EUA – vêm gerando polêmica.
Para ambientalistas, a primeira forma é altamente poluente, uma vez que utiliza fornos em altas temperaturas. A segunda poderia colocar em risco lençóis freáticos. O benzeno, material utilizado no fraturamento, é altamente tóxico.
Para o professor do curso de Engenharia da Energia da PUC Minas José Tadeu de Oliveira, especialista em combustíveis e biocombustíveis, o xisto abre uma possibilidade importante, mas os estudos precisam ser feitos com cautela.
“Aqui no Brasil, os estudos ainda são poucos e pouco aprofundados. Por isso, o mais correto, neste momento, é esperar que haja mais informações. Se conciliarmos o cuidado ambiental com tecnologia adequada para extração do xisto, será melhor”, avalia.
Mineral força preços para baixo
Os membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) mais afetados pelo boom da produção de petróleo nos EUA – em especial do obtido pelo xisto – viram seus preços de referência recuarem no ano passado. A informação está no relatório anual da Opep, divulgado ontem.
Os membros africanos da organização, como Nigéria e Argélia, são os que foram mais afetados à medida que suas exportações para os EUA recuaram substancialmente nos últimos anos. As vendas dos dois países caíram quase 50% entre abril de 2011 e abril de 2012, de acordo com dados publicados pela Administração de Informação de Energia dos EUA. Entre abril de 2012 e abril deste ano, as exportações da Nigéria declinaram mais 16%, para 12,2 milhões de barris, enquanto as exportações da Argélia diminuíram 38%, para 4,8 milhões de barris.
A queda também ocorreu nos preços. O valor médio do Saharan Blend, da Argélia, no mercado à vista, recuou 1,3% em 2012, para US$ 111,49 o barril, enquanto o Bonny Light, da Nigéria, caiu 0,4%, para o preço médio de US$ 113,66 o barril.
A forte expansão da produção de energia nos EUA está causando uma revolução no comércio de petróleo global, uma vez que isso diminuiu o apetite do país por petróleo de alta qualidade, similar em qualidade ao produzido a partir da de xisto.
CONTRAPONTO. No caso do Girassol, que é o petróleo de referência de Angola, houve declínio de exportações para os norte-americanos. No entanto, o preço do barril subiu 0,6% no ano passado.
Ainda assim, vários outros membros da Opep, como a Arábia Saudita, o maior produtor da organização, estão relativamente incólumes ao boom de produção nos EUA. De acordo com o relatório anual da organização, a maior parte dos membros da organização registrou alta no preço médio de seus petróleos de referência de 2% a 3% entre os anos de 2011 e 2012.
Essa discrepância tem o potencial para aprofundar rachas entre grandes produtores de petróleo dentro do grupo, que procura controlar as mudanças que ocorrem no mercado.
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