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Todos os problemas da OGX se resumem a um
20/08/2013
A abertura de capital da petrolífera OGX serve como lição ao mercado de capitais local. Diversos erros foram cometidos. A maioria derivado da ida precipitada da companhia para a bolsa.
Em janeiro de 2012, quando as ações da OGX (OGXP3) estavam cotadas a R$ 14,23 (na última sexta, fecharam a R$ 0,67), publiquei o post “O fracasso dos IPOs das cias pré-operacionais”. Das oito companhias analisadas, apenas OGX e MPX apresentavam rentabilidade superior ao do Ibovespa na ocasião.
A dificuldade de avaliar essas companhias pela ótica fundamentalista é imensa. A análise por múltiplos não serve, pois ainda não há resultados operacionais. A metodologia do fluxo de caixa descontado carece de resultados históricos que referendem a capacidade dos gestores. A ausência de geração de caixa consistente nos primeiros anos joga o valor da companhia para a perpetuidade. A maior parte das estimativas vem da administração que, convenhamos, não é a melhor fonte, pois há conflito de interesse envolvido. Segundo a reportagem do Valor “OGX fez leitura enviesada de relatório sobre barris”, de 31 de julho de 2013, o corpo diretivo da companhia fez uma leitura mais otimista sobre o potencial de reservas com base no relatório da certificadora DeGolyer & MacNaughton em 2011.
Além disso, as ações são movidas pelo fluxo de informações (o “newsflow”). Imprensa e analistas são ávidos por notícias. A cada trimestre, debruçam-se sobre os balanços das empresas abertas. Mas que números buscar em empresas que mal entraram em operação? Fazendo uma analogia com o teatro, seria como se analistas e jornalistas estivessem analisando os ensaios e não a peça. Como se o crítico teatral avaliasse o cenário, o enredo e o desempenho dos atores antes mesmo da peça entrar em cartaz.
Ainda em janeiro de 2012, fiz outro post relacionado à OGX: “Comparando as ações de OGX e Petrobras”. Na ocasião me chamava a atenção a preferência pelas ações da empresa de Eike Batista em detrimento dos papéis de Petrobras, apesar da dificuldade de avaliação mencionada anteriormente e da maior volatilidade das ações da OGX com base na variação diária.
A operação da OGX coloca em discussão alguns aspectos. O primeiro é sobre a remuneração dos administradores das companhias abertas. O pagamento de incentivos no curto prazo incentiva os gestores a terem um discurso otimista e a adotar estratégias agressivas que podem comprometer o desempenho operacional no longo prazo. Essa atitude vem sendo questionada na OGX como mostra a reportagem do Valor “Plano de opções da OGX tinha potencial de lucro de R$ 1 bi”, de 6 de agosto. Incorporadoras também viveram o mesmo problema, uma vez que resultados operacionais desastrosos não impediram que executivos obtivessem remuneração expressiva.
O segundo aspecto é sobre a viabilidade do lançamento de ações em bolsa desse tipo de companhia. O próprio Eike Batista admite seu arrependimento em depoimento ao Valor, em artigo de 19 de julho: “Hoje, se pudesse voltar no tempo, não teria recorrido ao mercado de ações. Eu teria estruturado um private equity que permitisse criar do zero e desenvolver ao longo de pelo menos 10 anos cada companhia. E todas permaneceriam fechadas até que eu estivesse seguro de que havia chegado o momento de abrir o capital”.
Concordo com Eike Batista. Um ano e sete meses antes de sua declaração, escrevi no post citado no início do texto: “Essas companhias (as pé-operacionais) pularam etapas. Os investidores mais apropriados teriam sido os fundos de participação (“private equities”). O momento mais adequado para virem a mercado teria sido quando os resultados se tornassem mais consistentes. Sem esses, os analistas concentram suas avaliações em aspectos subjetivos — a capacidade da administração de entregar o prometido ou as perspectivas do setor.
O terceiro ponto importante é sobre a necessidade de empreendedores para o desenvolvimento do mercado acionário brasileiro. Nesse aspecto, perde o mercado de capitais nacional com a derrocada das companhias de Eike Batista. A bolsa, tal como clubes de futebol, precisa de ícones para se sustentar. O que seria do mercado acionário americano sem Steve Jobs e Bill Gates para citar apenas destaques recentes?
Por André Rocha – “O Estrategista”
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