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Ultra compra Extrafarma por R$ 1 bi

02/10/2013

O grupo Ultra fechou ontem, por R$ 1 bilhão, a compra da rede paraense de drogarias Extrafarma, a 8ª maior do país em número de lojas e a 9ª em faturamento. A operação foi realizada por meio de uma troca de ações: o Ultra passou a deter 100% das ações da Imifarma Produtos Farmacêuticos e Cosméticos, empresa dona da marca Extrafarma, enquanto os atuais sócios da Imifarma receberam 2,9% das ações da Ultrapar.
A Extrafarma, cuja sede é em Belém, possui 186 farmácias nas regiões Norte e Nordeste. A expectativa é que apure este ano receita bruta de R$ 1 bilhão e Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) de R$ 77 milhões. Em 31 de dezembro do ano passado, a empresa tinha dívida líquida de R$ 106 milhões, valor que será assumido pelo Ultra.
Com a compra, o Ultra pretende usar parte de seus pontos de revenda – mais de 10 mil, distribuídos entre 6,5 mil postos de gasolina Ipiranga e 4 mil de revenda de gás de cozinha da Ultragaz – para expandir em todo país a rede da Extrafarma, cuja marca será mantida. Apenas neste ano, o Ultra está abrindo 450 novos postos de gasolina, 250 lojas de conveniência AmPm (presentes na rede Ipiranga) e 300 lojas da Ultragaz. A marca Extrafarma será mantida.
A compra da rede paraense representa a entrada do Ultra em sua quinta área de negócios – a de varejo farmacêutico. A companhia, que faturou R$ 54 bilhões em 2012 e contabilizou Ebitda de R$ 2,405 bilhões, está presente nos segmentos de distribuição de combustíveis (por meio da rede Ipiranga) e de GLP (Ultragaz), além de atuar com logística (Ultracargo) e no setor químico (Oxiteno).
A opção pelo varejo é justificada pelo fato de o setor ser o que mais cresce na economia brasileira há vários anos. No caso do segmento de farmácias, o avanço, em termos reais, tem sido superior a 10% ao ano. O faturamento do setor superou R$ 60 bilhões em 2012, segundo estimativa da IMS Health e da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria da Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).
O Ultra acredita que o varejo farmacêutico deve continuar crescendo de forma significativa nos próximos anos graças ao envelhecimento da população, ao aumento da renda, ao maior acesso dos brasileiros a medicamentos – principalmente por causa da disseminação dos remédios genéricos – e à crescente demanda por produtos de higiene e limpeza.
“É um setor que está alinhado com o vento”, disse em entrevista ao Valor o presidente do conselho de administração do Ultra, Paulo Cunha. Ele lembrou que as farmácias passam por processo de consolidação e formalização, o que abre boa oportunidade de negócios para empresas como o Ultra. “A nossa entrada ajuda na formalização do setor.”
A consolidação está apenas no início. As dez maiores redes de drogarias do país detêm apenas 35% do mercado. A vantagem do Ultra é justamente dispor de mais de 10 mil pontos de revenda. A companhia acredita que a instalação de farmácias na rede Ipiranga aumentará o número de clientes em seus postos. “Cada loja da AmPm aumenta em 18%, em média, o movimento nos postos”, comparou Thilo Mannhardt, presidente do Ultra.
A entrada das farmácias nos postos de gasolina é uma operação “trabalhosa”, diz Cunha. Os postos não pertencem ao Ipiranga, mas aos franqueados, ao contrário das drogarias. O Ultra terá que alugar espaços nos postos para colocar suas farmácias. De qualquer forma, como as drogarias tendem a aumentar o movimento nos postos, os franqueados terão interesse no novo negócio. Além da AmPm, postos da rede Ipiranga abrigam outra franquia do Ultra – a Jet Oil, para serviços de troca de óleo.
A Extrafarma é uma empresa familiar, com 50 anos de atuação em distribuição de medicamentos. Dos sete sócios irmãos, apenas um, Paulo Lazera, dirige a companhia. Ele seguirá tocando o negócio, como diretor-superintendente, responsável pelo varejo farmacêutico. Também integrará a diretoria-executiva do Ultra.
Segundo André Covre, diretor financeiro e de relações com investidores do Ultra, a Extrafarma chamou a atenção também por seus padrões de governança. “É uma empresa-irmã do Ultra”, disse ele. O acordo de acionistas da Extrafarma tem, por exemplo, uma cláusula que impede os donos de ostentar riqueza. “Eles são muito ‘low-key’ [discretos]. A articulação dos sócios só pode ser feita em benefício da empresa”, diz Mannhardt.
Pagamento em ações da Ultrapar foi decisivo para atrair Extrafarma
Antes de fechar acordo para ser vendida ao grupo Ultra, a rede de farmácias Extrafarma prospectou o mercado em busca de um investidor financeiro. Ao longo do último ano, a companhia paraense conversou com fundos de private equity e chegou a receber propostas, segundo fontes que participaram das conversas.
A ideia inicial da família Lazera, que controla a Imifarma, dona da Extrafarma, era vender uma participação minoritária do negócio – daí o interesse em atrair um investidor financeiro e não estratégico.
Em paralelo, o grupo Ultra começou a buscar ativos do varejo farmacêutico com a intenção de entrar nessa área. Com isso, os interesses dos dois grupos acabaram se aproximando.
O Valor apurou que a Imifarma acabou optando pela proposta do Ultra – e pela venda da companhia toda – por causa do formato da operação. Nem toda a família controladora da Extrafarma tinha a intenção de sair da companhia e o pagamento por meio de ações dá àqueles que pretendem permanecer no negócio a possibilidade de fazê-lo.
Pelos termos do acordo, o Ultra passou a deter a totalidade das ações da Imifarma, dona da marca Extrafarma. Os acionistas da Imifarma, por sua vez, ficarão com 2,9% das ações da Ultrapar.
O contrato prevê uma regra de permanência de seis anos para os acionistas da Imifarma. Ou seja, nos próximos anos eles poderão reduzir gradualmente sua participação na Ultrapar, se o desejarem. Mas somente depois desse período poderão se desfazer totalmente das ações.
A Extrafarma foi assessorada pelo Itaú BBA. O grupo Ultra foi auxiliado pelo escritório de advocacia Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga.
No acordo com o grupo Ultra, a rede paraense foi avaliada por um múltiplo equivalente a 13 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), em linha com a avaliação de outras empresas do setor. A expectativa é que a empresa fature R$ 1 bilhão neste ano.
A receita da companhia é uma amostra de quão pulverizado ainda é o varejo farmacêutico no Brasil. O setor, como um todo, movimenta R$ 60 bilhões anuais.
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