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Rede de postos Ipiranga fecha mais de 500 lojas e testa novos modelos
10/12/2020
Fonte: Valor Econômico
A rede de postos de gasolina Ipiranga, controlada pela holding Ultrapar Participações, fechou mais de 500 lojas de conveniência da bandeira AmPm nos últimos meses. A busca por maior rentabilidade e o impacto da pandemia levaram a empresa a mudar a operação, testando novos modelos de lojas.
Para consultores, com expansão dos aplicativos e dos minimercados, a loja de conveniência tradicional perdeu atratividade, e precisa ter novas propostas.
Do total de 2.345 lojas que a empresa tinha em meados do ano, existem atualmente 1.778 e 44 delas (localizadas dentro e fora de postos) começaram a operar nesse novo conceito. Itens de “food service”, como artigos de padaria e produtos que podem ser consumidos na própria loja, ganham mais peso. Há destaque maior para a área de cafés, salgados e cervejas – bebida com consumo relevante à noite. Um dos objetivos é a melhora da rentabilidade da operação.
“Foram meses estudando onde cabe ou não o novo formato, e nos locais onde fechamos o revendedor pode abrir uma loja dele se quiser, mas não será AmPm”, disse Marcello Farrel, diretor da AmPm. “Mudamos a disposição das áreas e a forma como o cliente circula pela nova loja. Já na entrada ele verá opções para consumo no local, que tem margem melhor. Itens que geram fluxo, como cigarros, ficaram distante da entrada, para levar o cliente a caminhar pela loja”.
A Ipiranga fechou 486 lojas AmPm no terceiro trimestre, levando em consideração tamanho, localização e rentabilidade. A maioria delas é de franquias. Pontos que mesmo após ajustes não trouxeram resultado, ou não tinham espaço físico para receber o novo formato, deixaram de funcionar. A empresa disse a analistas em novembro que outras 81 lojas pararam de operar no terceiro trimestre por causa da crise gerada com a pandemia.
Paralelamente às reformas, a Ipiranga começa a abrir as primeiras lojas fora de postos de gasolina, dentro do novo formato. Também inaugura nesta semana outro modelo em postos de rodovias.
O movimento da companhia intensifica o atual ambiente de competição, e ocorre num período em que Raízen e a mexicana Femsa abrem a primeira loja da rede Oxxo no Brasil.
Duas unidades da AmPm em ruas e avenidas foram inauguradas, neste segundo semestre, uma na capital paulista e outra em Curitiba (PR). Outras duas serão abertas até o fim do ano no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Em janeiro, será inaugurada a primeira loja em aeroporto, no Santos Dumont, no Rio, e outra em rua, na cidade de Campinas (SP). A abertura da primeira unidade da rival Oxxo ocorreu em Campinas, há uma semana.
São unidades próprias da Ipiranga, mas que podem ter um modelo de franquia, após o projeto ganhar volume maior. Isso ainda está sendo formatado.
A rede da Ipiranga parece aproximar-se do conceito de loja de vizinhança, área explorada por grandes supermercados. Mas a empresa observa que em sua loja terão mais peso itens de “food service” como pães, doces, salgados e refeições congeladas. “Não seremos minimercado, mas loja de conveniência, porém rentabilizando melhor porque temos um ‘food service’ maior”, diz Farrel. Redes como Carrefour Express e o Minimercado Pão de Açúcar têm lojas com padarias, açougues e produtos prontos para comer.
Farrell diz que as unidades de ruas, com portfólio maior (incluindo mais artigos de mercearia, beleza e limpeza) podem vender produtos como sorvete, por exemplo, em uma área separada – um layout parecido ao de lojas de “fast food”. Farrell foi diretor do Bob’s por dez anos, até ir para a AmPm em março de 2019.
“É um projeto que estamos conseguindo fazer porque já temos escala, estrutura de distribuição e marca. Temos quatro centros de distribuição e quase 100 caminhões. Sem isso, não há como montar esse modelo.”
O Valor apurou que a intenção é ampliar em torno de 9% ao ano o número de lojas, em relação às 1,8 mil unidades atuais. A empresa não comenta a informação. O Valor também apurou que a média de investimento nas lojas de rua, por parte dos franqueados, pode atingir R$ 1 milhão, chegando a R$ 2 milhões nas “lojas conceito”, com metragem maior, como a que será aberta em Campinas.
Ainda há um formato menor, que exige menos desembolso, localizado dentro de centros comerciais e também em teste (duas foram abertas em São Paulo em agosto e outubro).
No caso das lojas em postos, como as unidades são franqueadas pelos revendedores, depende deles a reforma dos pontos. Muitas vezes o revendedor acaba mantendo a loja, mas sem foco maior no negócio, e ainda precisa pagar royalties à Ipiranga, que variam de 6% a 8% da venda na loja.
“Essas lojas perderam parte de sua proposta de valor com a expansão dos aplicativos, que operam 24 horas por dia, e com o crescimento dos minimercados. O cliente não precisa mais ir até o posto para comprar algo à meia-noite, e ainda paga mais barato pelos ‘apps’. O consumo no posto hoje é mais eventual. Por isso, o formato precisa se renovar”, diz um consultor dessa área.
Farrel diz que as lojas já reformadas têm melhorado vendas e margem, o que ajudará o franqueado a abraçar a proposta. Ele reforça que há cerca de 500 lojas da AmPm integradas a aplicativos como Ifood e Rappi, que retiram pedidos nos pontos, dentro da ideia de explorar também esse canal de venda. Ainda diz que começou a testar em São Paulo o formato de compra on-line e retirada no ponto de venda.
Já no caso das rodovias, a primeira unidade AmPm no formato mais completo, com dois mil metros quadrados, será inaugurada hoje, terça-feira, num posto na BR 116, em Curitiba (PR). A loja terá áreas especiais para caminhoneiros como sala de jogos e de TV, além de área de descanso.
Nesse segmento, a competição também cresceu, com a IMC, dona do Frango Assado e da rede de postos de gasolina Graal. A IMC tem reformado lojas e ampliado a oferta de redes de alimentação dentro dos postos.
“Vamos ter lojas nos grandes corredores de rodovias, sendo recomendável um espaço de 200 quilômetros entre elas”, afirma o diretor, sem no entanto projetar aberturas. A segunda unidade deve ser inaugurada em Registro (SP). A companhia tem 101 pontos AmPm em postos de rodovias – portanto, a maioria das lojas do grupo está em áreas urbanas. Na prática, a atenção ao negócio em rodovias cresce num período de pandemia e viagens internas em franco crescimento, que eleva o consumo nas estradas, algo que vem obrigando as redes de postos a melhorar a infra-estrutura.