
– Como GNV é um produto essencial e seus substitutos também encareceram, é razoável supor que as distribuidoras devam repassar o aumento em quase a sua totalidade para o consumidor, sem que se tenha uma possível redução nas vendas e no lucro dos postos. O principal fator que pode segurar o aumento seria uma possível redução no preço da gasolina ou do etanol. Se esses substitutos se tornarem mais vantajosos pros consumidores, pode ser que os motoristas que tem gás comecem a abastecer com etanol ou gasolina – analisa.
Depois do anúncio, postos do Rio já se preparam para o reajuste a partir da próxima semana. No posto BR de São Cristóvão, onde o GNV custava R$ 4,74 nesta sexta-feira, a previsão de aumento é de a partir de R$ 0,50. Em outros pontos da cidade, o valor por metro cúbico do combustível chegava a R$ 4,59, no Ipiranga da Avenida Brasil, no Caju; R$ 4,69 de um posto sem bandeira da Praça da Bandeira e até R$ 4,89 no posto Shell de Botafogo, na Zona Sul.
Pela última pesquisa da ANP, válida entre os dias 24 e 30 de abril, o GNV é vendido num preço médio de R$ 4,59 no estado do Rio, num mínimo de R$ 4,17 e chegando até R$ 6,60, no município de Angra dos Reis. Na cidade do Rio, a média é de R$ 4,49, com o menor valor, de R$ 4,17, em postos de Bangu, na Zona Oeste, e o mais caro, por R$ 4,89, em Botafogo, na Zona Sul.
– O custo (ao consumidor) cada posto irá definir, mas sem dúvidas as vendas vão cair. O estado do Rio é o maior mercado consumidor do Brasil. Os motoristas de aplicativos já estão no sufoco, saíram da gasolina para o GNV, mas está ficando muito pesado, não está cabendo no bolso do consumidor – avalia Manuel Fonseca da Costa, presidente do Sindicato dos Postos de Serviço do Rio de Janeiro (Sindcomb).
Impacto alto para taxistas e motoristas de app
O aumento já preocupa taxistas e motoristas de aplicativo. O GNV é um dos principais combustíveis utilizados pela categoria, por geralmente ser mais barato. Velho conhecido do volante, o taxista Robson Mafra está na praça há 29 anos, dos quais 25 foram rodando apenas com GNV. Mesmo com a vasta experiência, ele nunca viu um aumento no nível do observado nos últimos meses. A dificuldade para rodar já pressiona o motorista que, apesar de não cogitar largar o táxi, passa a se questionar se vai conseguir continuar sustentando a família.
— Eu gosto muito da minha profissão, mas os aumentos trazem um desânimo. Eu estou no volante há 29 anos, e chega uma hora em que me pergunto se vale a pena continuar , se vou continuar conseguindo levar sustento para a minha casa — lamenta.
O valor mensal pago por Mafra em 2022 chega a R$ 2.336, com dois abastecimentos por dia, a R$ 73 cada no botijão de 15 m³. Poucos meses antes, em outubro, conseguia fechar o mês pagando R$ 1.760, equivalente a R$ 55 por botijão cheio. Ainda assim, é um salto significativo em comparação com a conta de 1997, ano em que começou a rodar: R$ 160 mensais, com cada abastecimento dos mesmos 15 m³ em R$ 5.
O motorista de aplicativo Sérgio Rodrigo de Souza, que roda com GNV há cinco anos, cogita abandonar aplicativos convencionais diante dos sucessivos aumentos no preço do gás veicular. Em apenas um ano, o custo com abastecimento de botijão de 8 m³ passou de R$ 22 para R$ 35, o que no final do mês reflete em um salto de R$ 1.320 para R$ 2.100.
— Eu procuro os lugares mais baratos para abastecer, geralmente paro na Praça da Bandeira ou no Centro. Mesmo assim, hoje quase não rodo mais em aplicativos por causa do preço do GNV, que não para de subir, e parou de compensar. Agora, vale mais trabalhar realizando entregas.