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Como a Petrobras pretende retomar a Refinaria de Mataripe, na Bahia, que foi vendida no governo Bolsonaro
21/02/2024
A Petrobras estuda com o Mubadala, o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, uma espécie de “IPO privado” para recomprar as ações da Refinaria de Mataripe, na Bahia (IPO significa lançar ações em Bolsa), de acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO. A refinaria foi privatizada em 2021, na gestão de Jair Bolsonaro.
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A ideia em estudo, que ainda precisa passar por aprovação dos conselhos de administração das empresas, é que a estatal compre mais de 51% das ações da unidade e, em seguida, reincorpore o ativo em seu patrimônio. Ou seja, ao fim, a refinaria voltaria a ter controle estatal.
Os estudos indicam que a Refinaria de Mataripe poderia ser isolada em uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), que passaria por uma operação de venda para a estatal. Mas também não está descartada a entrada de um novo sócio. “O percentual de participação deverá ser majoritário, com ou sem outro sócio. A ideia é recuperar a liderança da estatal na operação”, disse uma outra fonte do setor.
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Segundo as fontes, as negociações estão sendo feitas diretamente entre o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o comando do Mubadala no exterior. Recentemente, Prates esteve no Oriente Médio.
Em um post em uma rede social, ele disse que teve uma reunião com o CEO do Mubadala Investment Company e presidente do Conselho de Administração do Mubadala Capital, Waleed Al Mokarrab Al Muhairi, e que ficou acertado que as equipes intensificarão os trabalhos “com vistas a finalizar a nova configuração societária e operacional ainda neste primeiro semestre de 2024”.
Antigo nome de volta
Embora a refinaria tenha sido rebatizada de Mataripe, Prates ainda chama a unidade de Rlam, em referência ao nome usado nas últimas décadas pela estatal (Refinaria Landulpho Alves). A unidade responde por pouco mais de 10% da capacidade de refino do Brasil e foi a maior entre as quatro unidades vendidas pela estatal no antigo programa de venda de ativos da companhia. Segundo fontes, a refinaria voltará a se chamar Rlam.
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De acordo com as fontes, ainda haverá a contratação de uma empresa de avaliação para definir o preço. Para isso, além de se levar em conta análises do fluxo de caixa, é feito um estudo da perspectiva de crescimento da unidade, do setor e os futuros investimentos. O Mubadala pagou US$ 1,8 bilhão por 100% das ações em leilão em 2021.
Ontem, em evento no Cenpes, unidade de pesquisa da Petrobras, para o lançamento de tecnologia que faz a separação de água e óleo com reinjeção de gás carbônico no fundo do oceano, Prates afirmou que é importante recuperar a operação da refinaria, mas disse que ainda não há negociações:
— Fomos convidados por eles, que disseram “que tal a Petrobras voltar a fazer parte da refinaria, nos ajudar com ela e, ao mesmo tempo, fazer parte do grande projeto da Macaúba, do biocombustível?” E nós estamos analisando. Queremos voltar a fazer parte da gestão da refinaria, pois é importante. Para nós, essa refinaria complementa uma série de sinergias com o resto do sistema. Não nos cabe adiantar nada, mas recuperar a Rlam é importante.
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Sem detalhar a operação, Prates lembrou que a busca de uma solução por parte do Mubadala prova que a tese de vender as refinarias no Brasil para gerar concorrência não deu certo:
— Não deu certo a tese de que vender uma refinaria no meio de um mercado que tem uma área de influência bem definida faria diferença em termos de preço. Ao contrário. Ela não conseguiu praticar esse preço. Como a gente dizia na época no Senado, a refinaria de Porto Alegre não vai competir com a da Bahia na Bahia. Quem tem que suprir a Bahia é a refinaria local ou quem conseguir importar o que a refinaria local não puder suprir ou se ela exagerar no preço. A regulação é própria. Não é fábrica de calçado. Refinaria não é assim, tem área de influência, e isso está provado. Espero que a gente tenha aprendido a lição.
Gestão na Braskem
Também no evento de ontem, Prates disse que a Petrobras vai aproveitar o processo de venda da fatia da Novonor (ex-Odebrecht) na Braskem para participar da gestão de igual para igual com um novo sócio. A Braskem, que já chegou a receber propostas da Unipar e da J&F, tem hoje como principal interessado a Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc), a estatal de petróleo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
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— É natural que em uma nova estrutura, com um sócio de mesmo tamanho, um congênere, a gente tenha uma cogestão, de igual para igual. Mas isso não está sendo tratado agora. Isso é um fator que virá depois de definido o sócio — afirmou Prates.
A gestão da Braskem está a cargo da Novonor, que tem 50,1% do capital votante. A Petrobras tem 47% das ações com voto, mas não participa do processo decisório.
— Temos uma conversa de alto nível e de futuro com a Adnoc. Mas não é só a Braskem. Estamos trabalhando com o “se” for ela. A mesma coisa com a estatal petroquímica do Kwait. Ela também nos perguntou sobre a Braskem, mas até agora não fez proposta. E o processo está aberto.
O executivo lembrou que o setor petroquímico faz parte do novo plano de negócios da estatal. Na viagem ao Oriente Médio, Prates destacou a busca por parcerias no setor de fertilizantes, onde vai voltar a investir. Ele citou conversas com estatais da Arábia Saudita, do Kwait e do Qatar.
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— A Qatar Energy é um fornecedor de gás importante e tem fornecido fertilizantes. Somos um comprador importante de GNL do Qatar, embora os últimos carregamentos tenham sido dos EUA. Eles estão dispostos a abrir mais espaço para conversas sobre preços. Isso na busca de melhorar o nosso preço de gás importado e, ao mesmo tempo, viabilizar a produção de fertilizantes.
A Petrobras apresentou ontem o Hisep, que faz a separação de água e óleo e a reinjeção de gás carbônico no fundo do oceano. O equipamento deve ser instalado em 2025 na área de Mero, no pré-sal da Bacia de Santos. O investimento é de US$ 1,7 bilhão.
— Descarbonizar é fundamental. É um processo importante e vai fortalecer o que já estamos fazendo. Hoje, 25% do gás carbônico reinjetado no mundo (em campos de petróleo) é da Petrobras.