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Alta do etanol aumenta vendas de gasolina em Minas Gerais
10/03/2025
As vendas de combustíveis pelas distribuidoras de Minas Gerais cresceram 5,1% em janeiro deste ano se comparadas com as vendas de janeiro do ano passado. A alta de 9,6% da gasolina, a maior dentre os combustíveis, puxou o crescimento no Estado. Os dados são da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
No total foram 1,4 milhão de metros cúbicos (m³) de combustíveis comercializados no primeiro mês do ano em Minas Gerais, sendo 28,5% (407 mil m³) de gasolina. De acordo com o levantamento da ANP, com exceção do etanol, todos os combustíveis venderam mais no mês.
Enquanto o etanol caiu 8,6% nas vendas, o óleo diesel vendeu 4,9% a mais que em janeiro do ano passado e o gás liquefeito de petróleo (GLP) vendeu 4,6% a mais que no mesmo período do ano passado.
A queda nas vendas do etanol é justificada por diversos fatores que elevaram o preço do biocombustível, de acordo com o economista-chefe do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Izak Silva. O primeiro seria pelo motivo de estarmos na entressafra da cana-de-açúcar. “Estamos na pré-colheita e isso naturalmente reduz a disponibilidade do produto”, diz.
Outro ponto levantado por Izak Silva está associado às intempéries climáticas observadas no ano passado, em que grande parte das plantações de cana-de-açúcar foi queimada, reduzindo a oferta e, consequentemente, aumentando o preço do etanol.
Outro ponto considerado relevante pelo economista é a forte correlação entre a produção de etanol, o preço do açúcar no mercado internacional e a produção de combustível. “Para eu produzir etanol, eu tenho que deixar de produzir açúcar e vice-versa. Com o açúcar valorizado no mercado internacional, os produtores optam por produzir mais açúcar em detrimento do etanol”, explica.
Por último, Izak Silva lembra da correlação etanol e gasolina. Como parte do produto vendido nas bombas é composto por etanol, é natural que ao aumentar a demanda pelo derivado de petróleo, aumente a demanda de etanol, impactando também os preços. “Esta variação que estamos percebendo em janeiro, é o consumidor escolhendo entre preços relativos de gasolina e etanol no momento da compra”, avalia.
O diretor e professor da unidade Floresta da Centro Estácio, Alisson Batista, acrescenta ainda a questão dos custos produtivos. “Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/Usp), os custos da produção chegaram a aumentos de até 30%”, informa.
O presidente da Associação da Indústria da Bioenergia e do Açúcar de Minas Gerais (Siamig Bioenergia), Mário Campos, pontua também que os preços praticados do etanol da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) são acima dos praticados em outras regiões do Estado, o que levaria os consumidores a optar pela gasolina quando esta está mais competitiva. Conforme Campos, na região do Triângulo Mineiro, por exemplo, o etanol é bem mais barato que o vendido na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Sem saber os motivos desse preço elevado na RMBH, Campos ressalta que quando analisados os números do País, a procura por etanol continua em alta. “O dado de vendas de etanol do País foi de elevação de 1,2% na demanda de janeiro, subindo até mais que a gasolina que foi de 0,9%”, ponderou.
Crescimento da venda de combustíveis no Estado é maior que a nacional
O crescimento de vendas de combustíveis no Estado (5,1%) é acima do crescimento nacional que foi de 1,9%. Para essa constatação, o economista da Estácio, Alisson Batista, explica que até início de janeiro, o etanol estava vantajoso em comparação à gasolina somente em Minas e outros sete estados do País (AC, MS, MT, PB, SP, PR e DF), segundo dados da ANP. “Porém, com o impacto do aumento do preço, mesmo com os esforços publicitários realizados em janeiro, houve queda na preferência pelo etanol”, afirmou.
Segundo Batista, na comparação ao restante do País, a localização do Estado, que faz ligação para diversas rodovias, também favorece o abastecimento de viajantes e janeiro é um período de férias. “Além disso, grande parte das entregas e distribuição de produtos da indústria e do comércio eletrônico acontece por estradas, fortalecendo ainda mais o comércio de combustíveis”.
Combustível mais vendido foi o óleo diesel
Apesar do aumento significativo nas vendas da gasolina, o combustível mais comercializado pelas distribuidoras em Minas Gerais em janeiro deste ano foi o óleo diesel, representando 45,5% do total. No primeiro mês do ano, as negociações do produto somaram 648 mil m³, alta de 4,9% frente a janeiro de 2024, quando foram vendidos 617 mil m³.
“O diesel é usado não só no transporte de cargas, mas também em máquinas e equipamentos da mineração, por exemplo”, lembra Izak Silva.
Já as negociações de gás liquefeito de petróleo (GLP) tiveram um crescimento de 4,6%, pulando de 118 mil m ³ para 123,5 mil m³ este ano.
Tendência é preço do combustível continuar aumentando
O diretor e economista da Estácio lembra ainda que como os dados da ANP são de janeiro não há reflexo do reajuste do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), aprovado pelo Conselho Nacional de Políticas Fazendárias (Confaz) ano passado, que passou a valer a partir de fevereiro deste ano.
De acordo com a medida, a alíquota do diesel passará a ter o valor fixo de R$ 1,12 por litro, um aumento de R$ 0,06 (5,3%). Já a da gasolina, subirá de R$ 1,37 para R$ 1,47 por litro, registrando aumento de 7,3%.
E não só por este motivo os combustíveis devem continuar aumentando. Conforme explicou o economista do BDMG, Izak Silva, a próxima colheita de cana-de-açúcar ainda deve ser reduzida, e por esse motivo continuará impactando o preço do etanol.
Como o etanol compõe o preço e produção da gasolina, o derivado de petróleo também deve sofrer este repasse. “Adicionalmente a isso, o preço da gasolina e do diesel está defasado em relação ao mercado internacional. Então, permanecendo estas condições, devemos observar um repasse da Petrobras, compensado em parte, a desaceleração da atividade econômica”, finalizou.
