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Substituição do diesel, um combustível caro, no transporte de cargas ainda requer desafios
15/04/2025
O preço do diesel é uma das maiores preocupações do setor de cargas rodoviárias. O combustível, que representa cerca de 35% dos custos, é difícil de ser substituído, levando as transportadoras a repassar os aumentos ao valor do frete. Em fevereiro, a Petrobras elevou nas refinarias o litro do diesel em R$ 0,22, para R$ 3,72 em média – dois meses depois, em abril, reduziu o litro em R$ 0,17.
“O diesel, junto com a mão de obra, é um dos dois maiores custos da atividade de transporte. Qualquer aumento tem impacto, especialmente porque a margem de lucro do setor é baixa”, ressalta Lauro Valdivia, assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC&Logística).
Segundo ele, o uso de outros combustíveis, como o gás natural veicular (GNV), ainda enfrenta desafios. Um deles é o alto custo dos veículos. Outro, a baixa disponibilidade dessa opção no Brasil. Por isso, conta Valdivia, as empresas de transporte vêm adotando uma gestão rigorosa para otimizar seu consumo de diesel, por meio de melhorias operacionais e tecnológicas.
“O setor espera que a Petrobras consiga manter o preço do diesel o mais estável possível, mesmo diante de oscilações no mercado internacional. Além dos aumentos, o problema é a frequência com que ocorrem”, diz o executivo. O aumento de fevereiro foi o primeiro desde outubro de 2023.
A Petrobras informa que mudou, em maio de 2023, sua política de precificação, que tinha como referência o preço de paridade de importação. Passou a usar parâmetros como o custo alternativo do cliente, conceito mais amplo que contempla as alternativas de suprimento e o valor marginal para a petroleira. Segundo a estatal, os conflitos geopolíticos atuais, como a guerra na Ucrânia, amplificam a volatilidade dos mercados globais. E há outros pontos de atenção. “A política externa atual dos Estados Unidos é mais uma variável que pode influenciar o mercado de petróleo, tanto do ponto de vista da oferta quanto da demanda”, avalia a empresa.
O atual Plano de Negócios (PN) 2025-2029 da Petrobras destina US$ 19,6 bilhões para refino, transporte, comercialização, petroquímica e fertilizantes, 17% acima do plano anterior. Os projetos no setor preveem aumentar a capacidade de processamento de 1,8 milhão de barris por dia (bpd) para 2,1 milhões. Para isso, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, passará por modernização do trem 1 (módulo de produção) e terá a conclusão e entrada em operação do trem 2. Outras unidades também passarão por modernizações.
A produção prevista de diesel A (sem mistura de biodiesel), no PN 2025-2029, é de 695 mil barris por dia (mbpd) em 2025, que deve aumentar para 735 mil em 2029. Isso por conta da entrada em operação da unidade de refino do Complexo Boaventura (RJ). Em 2030, com a plena operação do segundo trem da Rnest, o volume deve subir para 845 mil.
A estimativa da Petrobras para o diesel S10 – menos poluente – é incrementar a produção em 290 mil barris diários: alta de cerca de 40% da capacidade atual. A empresa ainda afirma que há potencial de adicionar mais 70 mil barris por dia depois de 2029.
Marcelo Bragança, vice-presidente de operações, logística e sourcing da distribuidora Vibra, diz que o adiamento, pelo governo, da mistura de 14% para 15% de biodiesel no diesel, que deveria ocorrer em março de 2025, traz alívio na pressão sobre os preços do biodiesel e do óleo de soja, que tiveram altas significativas em 2024. “Como consequência, também reduzimos a pressão nos custos do diesel B”, observa. Diesel B é o diesel que sai da refinaria misturado a um percentual de biodiesel.
Segundo Bragança, o diesel será ainda, por muito tempo, o principal combustível para o transporte pesado. “Mas já se vê interesse em alternativas como o diesel verde e o gás natural, tanto comprimido como liquefeito e, em menor escala, a eletrificação”, diz.
Além das guerras na Ucrânia e em Gaza – que afetam diretamente os preços de derivados –, as políticas protecionistas e taxações aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já impactaram a logística brasileira, avalia Adiemir Hortega, gerente e especialista em logística da EY Brasil. “A volatilidade decorrente dessas medidas influencia negativamente a precificação internacional do petróleo e, em consequência, do diesel”, avalia.
Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam que em 2024 foram comercializados 67,25 bilhões de litros de diesel B (com mistura de biodiesel), 2,6% a mais que no ano anterior. De acordo com Sergio Araujo, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o Brasil continuará importando entre 25% e 30% do diesel mineral (sem mistura) demandado. Em janeiro foram comprados no exterior 1,32 bilhão de litros, 18,9% acima do mesmo mês de 2024. Araujo estima que neste ano será necessário importar cerca de 9,7 bilhões de litros. Segundo ele, ainda não está clara qual será a tendência e seus impactos na precificação dos combustíveis. “Mesmo com o cenário de fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, os países da União Europeia não migrarão suas compras para refinarias russas, mantendo os atuais fluxos logísticos dos produtos.”
