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Posto de gasolina, agência de carros, casa de câmbio e igreja: os setores onde o PCC lava dinheiro
02/07/2025
Quase 32 anos após ser criada na Casa de Custódia de Taubaté (SP), a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) está presente em 28 países além do Brasil e utiliza negócios lícitos para lavar dinheiro, conforme o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
Segundo as investigações, os 13 setores da economia onde a facção está infiltrada são:
- Postos de gasolina
- Agências de automóveis
- Imóveis
- Empresas de construção
- Casas de câmbio no Paraguai
- Bancos digitais, fintechs e Fundos de Investimentos em Participações, além de criptomoedas
- Empresas de ônibus do setor de transporte público
- Igrejas
- Organizações sociais da saúde pública
- Coleta de lixo e limpeza urbana
- Mineração
- Empresas de apostas e de jogos de azar
- Empresas ligadas ao futebol
“O que eu diria para vocês é que sim, o PCC hoje está na economia formal. As empresas que eles estão administrando não são mais empresas de fachada como uma década atrás”, disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), durante palestra em São Paulo, no seminário Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina, promovido pela Cátedra Oswaldo Aranha, do Instituto da Escola de Segurança Multidimensional (ESEM), da USP.
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“São empresas que existem, que estão prestando serviço, às vezes até prestando um bom serviço. Mescla-se nelas o dinheiro do tráfico de entorpecentes, do tráfico internacional, com o efetivo lucro que as empresas dão por ano”, acrescentou ele.
Inicialmente dedicado ao tráfico de drogas local, o PCC passou ao internacional, e agora investe na Ásia, chegando a ter integrantes na Turquia, no Líbano e no Japão.
“O quilo de cocaína na Ásia chega a US$ 150 mil. Estão comprando a produção (na Bolívia) a US$ 1 mil o quilo – às vezes, US$ 800 o quilo – e essa cocaína chega em Hong Kong, na Ásia, a US$ 150 mil o quilo. Não há nenhum negócio que dê mais dinheiro do que a cocaína hoje”, afirmou o promotor.
Foi em razão do lucro astronômico do mercado da droga que o PCC começou a lavar dinheiro há dez anos. O ponto de partida foi a compra de postos de gasolina, de agências de automóveis e imóveis.
Em seguida, a facção passou a investir em empresas de construção e em casas de câmbio no Paraguai. Após a pandemia de covid-19 e com a desregulamentação bancária no Brasil, a facção começou a atuar em bancos digitais, fintechs e Fundos de Investimentos em Participações, além de criptomoedas.
A facção também se infiltrou em empresas de ônibus do setor de transporte público – uma investigação mostrou elo da facção com viações que operavam linhas na cidade de São Paulo – , igrejas, organizações sociais da saúde pública, na coleta de lixo e limpeza urbana.
Outros ramos em que o PCC se espalhou foram a mineração, as plataformas de apostas e de jogos de azar e empresas ligadas ao futebol.
Há aqui uma diferença do que acontecia no passado, quando o PCC explorava mercados ilícitos, como os garimpos ilegais e os contrabando de cigarros, cigarros eletrônicos, armas e agrotóxicos, além de executar grandes roubos a bancos.
Segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado em fevereiro, rime organizado no Brasil já movimenta mais dinheiro com a venda irregular de combustível, ouro, cigarro e álcool (R$ 146,8 bilhões) do que com o tráfico de cocaína (R$ 15 bilhões).
É nesse contexto que Gakiya procura convencer o governo federal e o Congresso a adotar um projeto da lei antimáfia que crie uma agência federal de combate ao crime organizado, que centralize o combate à lavagem de dinheiro.
Além disso, uma lei antimáfia deve criar a figura da organização criminosa de tipo mafioso, e permitir que os bancos sejam obrigados a bloquear preventivamente os recursos suspeitos de origem mafiosa, como acontece nos casos de suspeita de terrorismo.
