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Os desafios da Tesla no 3º maior mercado de carros do mundo – um ‘cemitério’ para marcas ocidentais

21/07/2025

Fonte: Estadão

Tesla finalmente chegou à Índia, com a inauguração de um showroom na super poluída Mumbai, a capital econômica do país. É uma jogada que levou anos pra acontecer.

Os fãs estão considerando esse movimento uma virada de jogo, uma vez que abre para a marca de veículos elétricos o terceiro maior mercado automobilístico do mundo em volume, numa altura em que as vendas em declínio da empresa de Elon Musk precisam urgentemente de um impulso.

A Tesla não é a primeira fabricante de automóveis a encontrar atrativos nessa economia em rápido crescimento. Mas muitas marcas ocidentais têm sofrido ao tentar conquistar a sua fatia do bolo indiano.

Tarifas de importação punitivas sobre carros forçam efetivamente as montadoras a produzir localmente. A concorrência é acirrada: a marca local Maruti, a décima montadora mais valiosa do mundo, à frente de rivais como Ford e Stellantis, domina o mercado, ao lado de concorrentes nacionais como Mahindra e Tata. E é difícil ser lucrativo no país, já que os consumidores indianos que podem comprar carros normalmente não podem ir além de subcompactos baratos.

“Nenhuma das outras marcas que tinham grandes esperanças ao entrar no mercado indiano teve sucesso”, disse o analista da PwC Autofacts, Steven Van Arsdale, à Fortune.

Quando se trata especificamente de veículos elétricos, a demanda, embora crescente, continua insignificante. Apenas 3% dos 1,97 milhão de carros vendidos na Índia durante o primeiro semestre deste ano eram totalmente elétricos, de acordo com números fornecidos por Van Arsdale.

Isso representa apenas 60 mil carros no total, mas o segmento cresceu a uma taxa de 23% em relação ao ano anterior. “Não é muito, mas é mais do que no Japão, por exemplo”, acrescenta. Apenas 17,7 mil veículos elétricos foram vendidos no Japão durante o mesmo período, uma participação de apenas 1,3% do mercado automotivo japonês.

“Mesmo uma pequena fatia do terceiro maior mercado do mundo é certamente mais atraente do que uma grande fatia em um lugar mais rico, como Hong Kong ou Cingapura”, diz Van Arsdale.

O segmento de veículos elétricos da Índia tem sido liderado pelo modelo Tata Nexon EV, embora ele agora esteja enfrentando forte concorrência do MG Windsor, fabricado no país – em parte porque a bateria cara pode ser alugada para reduzir o preço para o equivalente a cerca de US$ 11,5 mil.

E, embora o mercado de veículos elétricos continue pequeno, o governo estabeleceu uma meta de 30% do mercado de carros novos sendo veículos elétricos até 2030. A Índia certamente poderia ter mais veículos elétricos nas ruas, já que sua poluição do ar é a quinta maior do mundo, de acordo com o Relatório Mundial sobre a Qualidade do Ar de 2024.

As concentrações de partículas finas perigosas são, em média, superiores a 50 microgramas por metro cúbico, mais de 10 vezes a diretriz recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Doze das 20 piores cidades do mundo nesse quesito estão localizadas na Índia, com Nova Délhi no topo da lista pelo sexto ano consecutivo.

Esta semana, a Tesla começou a receber pedidos para entrega em duas áreas metropolitanas: Mumbai, no sul, e Delhi, no norte. Agora, está oferecendo o Model Y em duas versões: alcance padrão, com 500 quilômetros, e longo alcance, com 622 km.

No entanto, eles têm um preço alto, o equivalente a cerca de US$ 71 mil por um veículo que custa cerca de metade disso nos Estados Unidos. Os impostos de 70% cobrados sobre os carros importados para o país são responsáveis pelo preço elevado. Um preço como esse posiciona firmemente a Tesla no segmento de luxo do mercado automotivo indiano, quando se compara com o já citado MG Windsor.

No entanto, foi uma decisão inteligente da Tesla optar por não entrar no mercado com uma versão simplificada, como fez no México, outro mercado emergente. Os consumidores indianos rejeitaram o Tata Nano, um carro deliberadamente projetado para fazer com que famílias de baixa renda trocassem suas motocicletas por carros, em parte porque o carro mais barato do mundo carecia de prestígio e status.

“Os consumidores indianos sabem que o Model Y é um carro vendido em todo o mundo que um motorista alemão ou americano também compraria”, diz o executivo da PwC.

As reformas econômicas de Modi

Muitas marcas ocidentais foram atraídas pela iniciativa do primeiro-ministro Narendra Modi de reformar uma economia burocrática que sufocava o crescimento. Seu novo Imposto sobre Bens e Serviços substituiu um código tributário bizantino que incluía esquisitices como o octroi, uma taxa municipal sobre mercadorias originárias do Império Romano. Sua abolição, em julho de 2017, foi posteriormente descrita pelo jornal The Hindu como um “evento de extinção” para empresas inteiras que surgiram em torno desse anacronismo: “Como um meteoro do espaço sideral para os dinossauros”.

No entanto, ainda existem grandes diferenças entre os governos regionais. Receber um Tesla Model Y não em Délhi, mas na cidade-satélite vizinha de Gurugram (antiga Gurgaon), a menos de 32 km de distância, custará caro ao consumidor. Isso porque um imposto rodoviário muito mais pesado cobrado no Estado de Haryana, onde Gurugram está localizada, acrescenta US$ 6,7 mil ao preço de compra.

Essas dificuldades específicas da Índia são, em parte, a razão pela qual as montadoras europeias Fiat e Opel fecharam suas portas. Até mesmo a marca de baixo custo Datsun, da Nissan, que escolheu a Índia para seu relançamento, acabou fechando. O Grupo Volkswagen, segundo colocado no mundo atrás da Toyota, ainda está presente, mas continua enfrentando dificuldades.

“A General Motors e a Ford também tentaram entrar no mercado, chegando a montar fábricas, mas não eram competitivas e acabaram redirecionando suas unidades para a exportação, porque pelo menos os custos de mão de obra na Índia são baixos”, diz Van Arsdale.

 

O Minaspetro divulga notícias de outros veículos como mera prestação de serviço. Esses conteúdos não refletem necessariamente o posicionamento do Sindicato.
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