O cenário global de transição para os carros elétricos sofreu uma reviravolta significativa em 2025, com consumidores repensando suas decisões diante de mudanças políticas e incertezas no setor.
Segundo uma nova edição do Mobility Consumer Index da consultoria EY, metade dos compradores de automóveis ao redor do mundo pretende adquirir um carro com motor a combustão nos próximos dois anos.
Esse número representa um aumento de 13 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, indicando uma forte inversão de tendência que até pouco tempo parecia irreversível.
O mais relevante é que boa parte dessa mudança vem de consumidores que originalmente estavam de olho em modelos elétricos.
A preferência por EVs caiu 10 pontos e agora representa apenas 14% dos entrevistados, enquanto o interesse por híbridos também teve leve queda, de cinco pontos, ficando em 16%.
Esse recuo não está restrito aos Estados Unidos, embora o continente americano tenha registrado o maior salto na intenção de compra de modelos a combustão, com aumento de 12 pontos.
Na Europa, o aumento foi de 11 pontos, e na região Ásia-Pacífico, 10 pontos. Entre os que ainda consideram comprar um EV, 36% afirmaram que estão repensando a decisão ou adiando a compra por conta de fatores geopolíticos. O motivo principal dessa desconfiança é a recente guinada nos incentivos governamentais. Nos Estados Unidos, os subsídios para EVs foram eliminados, e a União Europeia também começa a recuar em metas ambientais antes tidas como definitivas.
Fabricantes, por sua vez, estão reduzindo a oferta de modelos elétricos e, em alguns casos, sequer cumpriram as promessas feitas nos últimos anos. Essa combinação de políticas instáveis, infraestrutura de recarga ainda limitada e frustrações com o custo e desempenho dos EVs tem afastado os consumidores.
De acordo com o estudo, 29% dos entrevistados apontaram a autonomia limitada como principal preocupação.
Outros 28% se preocupam com a escassez de pontos de recarga, enquanto os custos elevados para eventual substituição das baterias também assustam 28% dos potenciais compradores. Apesar dos avanços tecnológicos e da chegada de modelos com alcance superior, a insegurança persiste, especialmente entre consumidores que dependem do carro para longas distâncias. A pesquisa também revelou que a desconfiança em relação à condução autônoma segue alta. Apenas 26% dos entrevistados disseram se sentir confortáveis com carros de Nível 3 ou superior em automação. A maioria prefere níveis mais baixos, citando medo de falhas técnicas, risco de acidentes e custo elevado como barreiras.
Outro dado revelador está na relação com as concessionárias: apenas 41% dos consumidores preferem finalizar a compra pessoalmente, queda de 20 pontos em um ano. Mesmo assim, compradores de EVs ainda buscam a experiência presencial, especialmente para entender melhor como funciona a recarga e os sistemas eletrônicos do veículo. Segundo a EY, o cenário aponta para um futuro mais diversificado, onde diferentes tecnologias de motorização devem coexistir, em vez de uma aposta exclusiva no “tudo elétrico”. A transição continua, mas agora com mais cautela — e menos otimismo.
