As gestoras Dynamo, Verde e Bogari, que estão entre os maiores acionistas da Vibra Energia (ex- BR Distribuidora), apresentaram, na noite de terça-feira, nomes para uma ampla reformulação do conselho de administração da companhia. A chapa inclui pesos pesados do mundo corporativo, como Sergio Rial, “chairman” do Santander Brasil, indicado para o comando do colegiado, Walter Schalka (Suzano), Nildemar Secches (ex- Perdigão) e Fabio Schvartsman (ex- Vale e ex- Klabin), afastado em 2019 da presidência da mineradora após a tragédia sócio-ambiental de uma barragem de rejeitos de minério de ferro em Brumadinho (MG).
De partida, os candidatos contam com o voto de acionistas que representam 20% do capital da antiga estatal – os 10% de Dynamo, Verde e Bogari e mais 10% do maior acionista individual da Vibra, Ronaldo Cezar Coelho, que tem acordo de voto com a Dynamo. A eleição do conselho está marcada para 28 de abril.
Na chapa também aparecem dois nomes ligados ao tema sustentabilidade – Ana Toni (ex-Greenpeace) e Clarissa de Araújo Lins (Catavento e ex-Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis). Carlos Piani, Mateus Bandeira e Pedro Ripper, que já estavam no conselho, foram mantidos.
O “dream team”, como definiu um dos principais acionistas da Vibra ao Valor, dará força para a companhia, comandada por Wilson Ferreira (ex- Eletrobras), conduzir o negócio após a privatização com a saída completa, gradual, da Petrobras. Conforme outra fonte, a chapa tem o apoio de Ferreira, executivo com ampla experiência no setor de energia. A Vibra está redefinindo sua matriz energética, rumo a fontes mais limpas.
A proposta dos novos integrantes surpreendeu os atuais conselheiros da companhia, que já esperavam por mudanças mas não previam uma renovação tão grande em seus quadros. Fontes próximas ao colegiado afirmaram que sete, dos nove membros da formação atual, estariam dispostos a seguir no conselho.
Os nomes de Rial, Schalka e Schvartsman foram bem recebidos internamente. Mas a discussão sobre a formação do novo colegiado não está encerrada, uma vez que outros acionistas, incluindo estrangeiros como GIC e BlackRock – um dos que colocaram o ESG na prática como critério de investimento -, além do fundo de pensão Previ, precisam avaliar a proposta.
Como parte da transição da Vibra de estatal para companhia de capital pulverizado – em que a presidência do conselho tem papel determinante -, os conselheiros contrataram meses atrás a consultoria de gestão Egon Zehnder, para um “benchmarking” em governança e escolha de nomes ao colegiado, o que ainda não teria sido feito. Havia expectativa de continuidade dos trabalhos feitos.
O nome de Schvartsman deve ser um ponto a ser debatido. A chapa indicada marcaria seu retorno ao mundo corporativo após o desastre ocorrido na Vale há três anos. Para fontes de bancos da Faria Lima e entre pares dele – ex-diretor-geral da Klabin e que fez carreira na Ultrapar -, o fato de haver pendências legais relacionadas ao rompimento da barragem que resultou na morte de 270 pessoas, não representa riscos ou preocupação, inclusive de reputação. Mas ainda é um ponto de incerteza.
O Ministério Público de Minas apresentou denúncia contra o ex-presidente da Vale e mais uma dezena de pessoas em 2020 pelo crime de homicídio doloso, mas o processo foi extinto pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora, a Justiça Federal avalia a responsabilidade sobre o desastre e ainda não há novo processo. Ainda há um processo sancionador aberto sobre a conduta do executivo na tragédia na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
“Tenho profunda admiração e respeito [por Schvartsman]. O que aconteceu na Vale nos deixa chateados, mas julgo que ele tem as condições éticas e técnicas para fazer frente a múltiplos conselhos de administração, incluindo o da Vibra”, disse Walter Schalka ao Valor. “Isso [o processo] não deveria ser um impeditivo para que ele participe de conselhos”.
A indicação de Schalka faz com que ele volte ao papel de conselheiro de empresas. Há anos, ele vem se dedicando à Suzano, com participação em conselhos de organizações não-governamentais.
Procurados, Wilson Ferreira e Fabio Schvartsman não se pronunciaram sobre o assunto.