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Adriano Pires explica motivos das oscilações do diesel
12/06/2025
Pela segunda vez em 2025, o preço do diesel foi alterado pela Petrobras. Após um aumento de R$ 0,22 em fevereiro, a estatal anunciou uma
queda de R$ 0,14 em maio, levando o valor médio do litro de R$ 3,43 para R$ 3,27. Desde dezembro de 2022, a redução acumulada soma R$ 1,22 — uma queda real de quase 35%, já descontada a inflação.
O movimento é resultado direto da mudança na política de preços da Petrobras, que abandonou, em 2023, o modelo de paridade internacional (PPI).
Sob a gestão do atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), e com aval do presidente Lula, a estatal passou a adotar o que o governo chama de “abrasileiramento dos preços”, uma diretriz que leva em conta fatores como custos internos de produção, câmbio e a participação da Petrobras no mercado consumidor. A lógica, segundo a presidente Magda Chambriard, é simples: “Se precisar subir, a gente sobe; se precisar descer, a gente desce.”
Em meio à queda do valor do barril de petróleo no mercado internacional, a presidente da Petrobras anunciou, no dia 26 de maio, que poderá voltar a reduzir o preço dos combustíveis caso essa tendência se mantenha – o que voltou a ocorrer em 2 de junho, desta vez, com a gasolina.
Apesar de parecer uma boa notícia para os consumidores e revendedores, a mudança no preço do diesel esconde incertezas e reforça a instabilidade de uma política que carece de previsibilidade. Para entender melhor o cenário, conversamos com Adriano Pires, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), ex-assessor da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), que analisa os impactos
da atual política de preços da Petrobras, critica o abandono da paridade internacional e alerta para os efeitos da imprevisibilidade no dia a dia da Revenda.
Na entrevista a seguir, ele explica por que as reduções nem sempre chegam ao consumidor e aponta o uso político da Petrobras no atual governo.
Pires também orienta os revendedores sobre como agir estrategicamente em um mercado marcado por volatilidade e decisões que misturam economia e interesses eleitorais. O recado é direto: sobreviver neste mercado exige leitura de cenário econômico e controle rígido dos custos do posto.
“Quando o preço é volátil, automaticamente a margem (de lucro) também vai apresentar certa volatilidade. Por isso, o controle de custo é fundamental”
O que está por trás da recente movimentação do preço do diesel?
O que está por trás é a queda do preço do barril de petróleo. O barril tem caído neste ano em função da guerra tarifária promovida por Donald Trump. O câmbio também deu uma reduzida. A Petrobras começou a ter um diesel, no Brasil, mais caro que o do mercado internacional — e aí fez essas reduções que você citou. Agora, sobre a política de preços da Petrobras, é muito difícil ter previsibilidade. Por
quê? Desde 2023, quando o presidente Lula tomou posse, o que a gente nota é que essa política, que ele chamou durante a campanha de “abrasileiramento dos preços”, dá margem a muita coisa. O que a gente tem reparado é o seguinte: quando é necessário subir o preço do diesel, demora muito. Para você ter uma ideia, em 2024, não teve nenhuma mexida no preço do diesel. Mas, quando é para reduzir, em função do mercado internacional, eles fazem rápido. Então, vem a crítica: a política de paridade de importação só é aplicada quando é para reduzir – quando é para aumentar, ela não vale. A redução anunciada pela Petrobras nem sempre chega ao consumidor final na mesma proporção.
Por que isso acontece?
Isso acontece porque o preço dos combustíveis no Brasil é livre. Distribuidoras e postos podem definir suas próprias margens. Além disso, o diesel é misturado com 14% de biodiesel, que muitas vezes está em alta — o que reduz o impacto da queda do preço nas refinarias.
Também existem diferenças regionais, como custos de frete, impostos e estrutura dos postos. Outro fator é que, diante da imprevisibilidade da política de preços da Petrobras, revendedores e distribuidoras, muitas vezes, seguram parte da redução para se proteger de futuras altas. Eles criam uma espécie de “colchão”, já que sabem que, se o mercado pressionar os preços para cima, a Petrobras pode demorar para repassar esses aumentos. No fim, isso gera distorções e confusão para o consumidor. A Petrobras e o governo costumam jogar a responsabilidade nas costas das distribuidoras e dos postos, como se a redução não estivesse sendo repassada, quando o problema é mais complexo.
O que o setor pode esperar da política de preços da Petrobras nos próximos 18 meses de governo Lula?
Acho que o setor pode esperar imprevisibilidade, uma política descolada do mercado internacional. Ela só se aproxima desse mercado quando é para baixar preços. Creio que o governo vá adotar medidas populistas para tentar aumentar sua popularidade e buscar a reeleição em 2026. Já vimos a MP que promete energia elétrica gratuita para milhões de pessoas e, ao que tudo indica, deve sair também uma medida provisória para distribuir botijão de gás gratuitamente a beneficiários do Bolsa Família.
Diante disso, não acredito que haverá aumento no preço do diesel ou da gasolina, a não ser em casos extremos. E pode até haver novas reduções, dependendo do comportamento do mercado internacional e do câmbio.
“Acho que o setor pode esperar imprevisibilidade, uma política descolada do mercado internacional”
Como o senhor avalia a gestão de Magda Chambriard na Petrobras?
Sem surpresas. Ela foi escolhida por ter um perfil mais discreto, falar pouco com a imprensa e nas redes sociais — exatamente o que o governo queria. Esse perfil contrasta com o do presidente anterior, Jean Paul Prates, que tinha uma postura mais pública e acabou sendo afastado por não seguir integralmente a linha do governo. A Magda está lá para executar uma gestão alinhada aos interesses políticos do presidente Lula.
A Petrobras voltou a ser usada como instrumento de política econômica e eleitoral, com forte presença de sindicalistas em cargos estratégicos. Essa sempre foi a visão do PT para a empresa, como ficou claro ainda na campanha de 2022.
Diante de um cenário tão volátil, marcado por decisões políticas e fatores externos que influenciam os preços dos combustíveis, como o revendedor pode se proteger e agir de forma estratégica?
É possível sobreviver em um mercado tão imprevisível?
Eu acho que o revendedor precisa ter cuidado na fixação do preço da bomba. Ele tem que estar atento às suas margens, para garantir que elas
cubram os custos, e precisa ter muito cuidado para não aumentar os custos. Quando o preço é volátil, automaticamente a margem (de lucro) também vai apresentar certa volatilidade. Por isso, o controle de custo é fundamental.
