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Carro híbrido e incentivo no NE moldam planos da Stellantis

25/05/2023

Fonte: Valor Econômico

Enquanto o governo federal preparava os últimos detalhes do novo programa do carro popular, que será anunciado nesta quinta-feira (25), o presidente da Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa, reuniu-se com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para uma conversa que foi muito além desse tema. Filosa foi conferir com Haddad a disposição do governo para aceitar condições que a companhia estabelece para continuar a investir pesado no Brasil. As duas principais são a manutenção de incentivos no Nordeste, onde fica uma das maiores fábricas do grupo, e estímulo para desenvolver e produzir, no país, carros híbridos movidos a etanol.

A direção mundial da Stellantis, dona das marcas Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën, entre outras, analisa, nesse momento, as condições de cada região para definir os próximos ciclos de investimento. No Brasil, o programa em curso, que envolve R$ 16 bilhões, se esgotará em 2025. Filosa conversa com o governo local e a matriz para garantir que o próximo ciclo, que abrangerá o período de 2026 a 2030, seja tão ou mais robusto que o atual, iniciado em 2018.

O executivo italiano, que sabe se comunicar num português quase perfeito, entregou a Haddad estudo sobre impactos positivos, sob a ótica social e da arrecadação, no entorno de Goiana (PE), desde 2015, quando o grupo inaugurou uma fábrica na região.

Elaborado pela Ceplan, tradicional consultoria do Nordeste, o estudo aponta aumento de empregos qualificados e da arrecadação, mesmo com renúncia fiscal. Na área social, a atividade industrial ajudou a reduzir a evasão escolar. Filosa saiu do encontro com Haddad com os números ainda na cabeça: “No ensino primário, o abandono escolar caiu de 9% para 0,5% e no secundário, de 7% para 0%”.

Os incentivos federais para o setor no Nordeste terminam em 2025. Ou seja, no ano em que a Stellantis também encerrará o atual ciclo de investimentos. Eloquente e metódico, Filosa não teve dificuldades em explicar as propostas da Stellantis, maior montadora do continente, nos 60 minutos que Haddad separou para ouvi-lo.

Além de destacar o interesse num tratamento especial para o desenvolvimento regional, principalmente no Nordeste, o executivo também falou sobre a posição da montadora em relação à futura matriz energética veicular no país.

A Stellantis pretende produzir carros híbridos no país, tendo o etanol como principal fonte de energia. Para argumentar sua posição, Filosa levou para o gabinete de Haddad uma apresentação dos resultados de testes com carros comparando a emissão de CO2 a partir de várias fontes de energia.

Nos testes, o carro abastecido com etanol emitiu menos dióxido de carbono que o elétrico com simulação de uso de energia gerada na Europa. A simulação levou em conta os poluentes emitidos na geração da energia.

Tanto a questão dos incentivos para produzir veículos no Nordeste quanto o apoio governamental para produção de carros híbridos a etanol desembocam num único objetivo: garantir que o Brasil será um ambiente favorável à estratégia da companhia.

Filosa tornou-se um dos principais porta-vozes do grupo de empresas que defende a preservação do etanol como combustível e em seu uso em híbridos produzidos localmente. Para ele, além da questão ambiental; a solução ajudará na eficiência industrial.

“Nossas alternativas abrangem a eletrificação, etanol e a combinação de ambos em sistemas híbridos para uma mobilidade de baixo carbono. Só o Brasil tem essa flexibilidade tecnológica. Isso é um ativo importante”, disse.

Filosa saiu do encontro com Haddad tão satisfeito quanto quando esteve, tempos atrás, com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Serviços, Geraldo Alckmin. “O ministra da Fazenda encheu nosso coração de entusiasmo e motivação”, disse. “Falamos do médio e longo prazos e percebi que o ministro gosta de desenvolvimento e de reindustrialização.”

E quanto ao carro popular, o tema automotivo que hoje mais interessa a Lula? “Se houver uma pauta em que podemos ajudar vamos participar”, disse Filosa.

A ideia do programa do carro popular – ou “carro de entrada”, como preferem as montadoras – foi lançada pela entidade que representa os concessionários, a Fenabrave, depois de Lula se queixar dos preços dos automóveis.

A indústria procurou não se envolver muito nessa discussão por vários motivos. Primeiro, por temer que os veículos hoje precisam atender padrões de segurança e qualidade que exigem equipamentos caros. Além disso, o setor se habituou a tirar os chamados “pé de boi” de linha porque as margens de lucro nos veículos mais caros é melhor.

Nesta quinta-feira o governo anunciará a fórmula final, que abrange renúncia fiscal, linha especial de financiamento, envolvimento dos Estados e, provavelmente, compromisso das empresas em manter nível de emprego.

O Minaspetro divulga notícias de outros veículos como mera prestação de serviço. Esses conteúdos não refletem necessariamente o posicionamento do Sindicato.