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Distribuidoras oferecem abertamente diesel ‘puro’ para TRRs

14/02/2025

Foto Ilustrativa criada por IA

Fonte: BiodieselBR

“Meu diesel é puro, eu não misturo ‘bio’ nele. Até por isso o preço dele é mais atrativo”, diz – sem meias palavras – a executiva de uma distribuidora para um possível cliente. O áudio circula desde ontem (12) entre profissionais da cadeia de diesel e biodiesel e parece confirmar, de vez, uma suspeita que incomoda o segmento há tempos: que fraudes no mandato de biodiesel estão se tornando prática corrente entre distribuidoras desonestas interessadas em aumentar seus ganhos.

O temor de que o mercado de óleo diesel vinha se tornando um alvo mais convidativo para fraudes em escala vem ganhando força há meses, conforme os números tanto da produção das usinas quanto das entregas falhavam, de forma consistente, em cobrir a demanda esperada.

Segundo a ANP, as distribuidoras movimentaram 67,2 milhões de m³ de óleo diesel B em 2024. Descontadas as vendas de diesel marítimo isento de mistura (1,33 milhão de m³), o mercado necessitaria de 9,03 milhões de m³ de B100 para atender à demanda.

Contudo, as entregas das usinas às distribuidoras somaram apenas 8,88 milhões de m³, deixando o mercado 150 mil m³ no vermelho.

Mesmo considerando os 9,07 milhões de m³ de biodiesel puro produzidos em 2024, a oferta não teria sido suficiente para cobrir tanto a demanda interna quanto as exportações.

A suspeita já havia ganhado força depois que um levantamento do Instituto Combustível Legal (ICL) identificou que mais de um terço das amostras coletadas em postos de São Paulo e do Paraná continham menos biodiesel do que deveriam. O instituto estimou que, apenas no sexto bimestre, cerca de 220 mil m³ de óleo diesel foram vendidos nesses estados com algum grau de desrespeito à mistura obrigatório.

Crime que compensa

O áudio vazado indica que a situação parece estar se disseminando rapidamente. Segundo uma fonte do setor de distribuição ouvida por BiodieselBR.com, o arquivo foi encaminhado por representantes do Sindicato Nacional dos Transportadores Revendedores Retalhistas (SindTRR) para um grupo de mensagens criado justamente para que profissionais de associações dos setores de distribuição e produção de biodiesel discutam a questão das fraudes de mistura.

No áudio, uma executiva (não identificada) de uma distribuidora ativa nos mercados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul oferece óleo diesel sem qualquer adição de biodiesel ao representante de um TRR (também não identificado), destacando o “preço mais atrativo”. A executiva também se oferece para emitir nota fiscal e amostras fraudulentas para enganar a fiscalização da ANP:

“A gente tem vendido bastante, principalmente no ‘giro’ de safra e não tem acontecido nada. (…) Até hoje não deu nenhum problema para nenhum cliente”, garante a executiva.

“Essa é a baixa percepção de risco atual. É o famoso crime que compensa!”, indignou-se o executivo que falou com a reportagem em condição de anonimato. “O que está nos assustando é que está se espalhando muito rápido. Só dar uma multa não vai resolver”, acrescentou, destacando que há indícios de que outras distribuidoras estejam adotando práticas semelhantes.

Na terça-feira (11), a Agência Eixos informou que o SindTRR emitiu uma circular entre seus associados, alertando para os riscos de comprar diesel sem biodiesel.

O Minaspetro divulga notícias de outros veículos como mera prestação de serviço. Esses conteúdos não refletem necessariamente o posicionamento do Sindicato.
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