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Oferta de shale gas nos EUA afetará o Brasil
12/05/2014
Com a economia globalizada, qualquer vantagem competitiva de uma nação, principalmente quando se trata de um grande player, é sentida pelo mercado mundial. Hoje, o fator de desequilíbrio é o shale gas norte-americano, que representa uma fonte de energia abundante e barata para uma das maiores economias do mundo. E a abundância desse gás nos Estados Unidos, muito em breve, implicará impactos no Brasil.
Por enquanto, o presidente da Belsul (empresa gaúcha focada em comércio exterior, envolvendo as áreas química e petroquímica), Sérgio Corrêa, argumenta que o momento é de uma etapa em que o jogo ainda está sendo colocado, em que as cartas não estão totalmente postas?. No entanto, o empresário ressalta que o shale gas representou nos Estados Unidos uma verdadeira revolução.
Essa fonte de energia é um gás natural não convencional, que se encontra em rochas impermeáveis ou de baixa permeabilidade, também conhecido por gás de xisto. Porém, conforme a assessoria de imprensa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), apesar de também ser chamado assim, o termo shale gas não deveria ser traduzido como gás de xisto. ?Shale? é um termo em inglês que significa folhelho, uma categoria de rocha sedimentar constituída, em sua maior parte, por minerais de argila. O xisto é uma rocha metamórfica, ou seja, que foi submetida a pressões e temperaturas muito altas e sofreu alterações na sua estrutura física e química, impossibilitando que petróleo e gás estejam presentes.
Ainda segundo a ANP, o xisto betuminoso da Bacia do Paraná, no Brasil, onde a Petrobras produz petróleo, também é um folhelho que contém querogênio (matéria orgânica imatura) e para produção deve ser aquecida num reator. No caso do shale gas, o gás já foi gerado, mas está preso na rocha devido a sua baixa permeabilidade, bastando o fraturamento das rochas para sua produção.
Corrêa enfatiza que o shale gas tornou os norte-americanos, novamente, capazes de fabricarem produtos manufaturados competitivamente. ?Porque, a energia, que é um insumo fundamental, baixou de valor?, aponta. O executivo reforça que o país caminha para ser superavitário no que diz respeito à energia e que deve voltar a ser o maior produtor de petróleo nos próximos anos, pois o shale gas também tem produção de petróleo associada. Além disso, o gás natural e o não convencional representam para os Estados Unidos a oportunidade de voltar a ser um agente essencial no setor petroquímico global, devido a uma matéria-prima extremamente competitiva.
De acordo com Côrrea, o shale gas custa, atualmente, nos Estados Unidos algo por volta de US$ 4,00 por milhão de BTU e no Brasil o gás está entre
US$ 13,00 a US$ 14,00 por milhão de BTU. O presidente da Belsul comenta que, por enquanto, a produção norte-americana de derivados petroquímicos (resinas) tem como destino fundamental o mercado interno e não tem sido exportada para outras nações, como o Brasil. A tendência é de que esse volume, excedente e crescente, comece a entrar mais no País a partir de 2016 e 2017?, projeta o dirigente. Além dos derivados petroquímicos, Côrrea recorda que outros produtos dos Estados Unidos terão um diferencial, porque ao serem fabricados com uma energia mais barata poderão ter um preço melhor ou maiores margens.
Investimentos são atraídos para países da América do Norte
Se o Brasil sentirá mais fortemente a entrada de produtos fabricados a partir do shale gas daqui a alguns anos, o que pode ser percebido agora é a atração de negócios internacionais para a América do Norte, inclusive de grupos brasileiros. O diretor da consultoria MaxiQuim Otávio Carvalho cita o exemplo da Braskem, que pensou em fazer investimentos no México para se beneficiar com o novo cenário, pois o custo do gás mexicano está relacionado com o dos Estados Unidos.
Nesse contexto, em 2010 foi criada a Braskem Idesa, uma joint venture formada pela Braskem e o Grupo Idesa. Por meio dessa parceria está sendo desenvolvido o projeto Etileno XXI, um complexo petroquímico para a produção de eteno e polietileno no estado mexicano de Veracruz. Esse empreendimento, que deve operar a partir do próximo ano, deverá exigir um investimento total de cerca de US$ 4,5 bilhões.
“Toda a petroquímica mundial que, no ciclo passado, investiu no Oriente Médio, hoje está se voltando para os Estados Unidos e região, esse é o maior efeito“, enfatiza Carvalho. O diretor da consultoria MaxiQuim lembra que o assunto shale gas e o gás natural vem ganhando espaço nos debates desde 2008. A partir daquele ano, o consultor ressalta que começou a ser criada uma enorme competitividade dos produtores baseados em fórmulas de preço atreladas ao gás norte-americano, em relação aos demais.
Para Carvalho, o pré-sal pode servir de resposta ao shale gas, porém o dirigente faz a ressalva de que não se sabe o valor que será atribuído ao petróleo e ao gás provenientes dessa reserva. O especialista adverte que novas plantas petroquímicas a serem construídas no Brasil precisarão de matérias-primas competitivas.
Já o presidente da Belsul, Sérgio Corrêa, não vê capacidade de uma contramedida imediata do Brasil em relação ao shale gas, exclusivamente focada no pré-sal. ?Acho que há um excesso de otimismo nessa questão (pré-sal), um excesso de dependência de uma boa performance da Petrobras para viabilizar o uso desse petróleo e um longo caminho pela frente quanto à capacidade efetiva de produção?, comenta o empresário.
Quanto a outras fontes de energia, de acordo com a ANP, o Brasil ainda deve demorar alguns anos para que se confirme a existência dos depósitos de gás não convencional, bem como a viabilidade de sua produção comercial. Em novembro de 2013, foi realizada a 12ª Rodada de Licitações, que ofertou blocos em terra com possibilidade de produção de gás natural, cujo edital contempla a possibilidade de explorar reservatórios não convencionais, com regras específicas para este caso. A viabilidade de explorar reservatórios não convencionais será avaliada nos próximos anos pelas empresas ao longo do desenvolvimento de suas atividades.
Fonte: Jornal do Comércio