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Para Renault, é hora de aprender com a China

11/07/2025

Fonte: Valor Econômico

Ivan Segal, diretor global de vendas da Renault, é um dos raros executivos de montadora ocidental que considera saudável a entrada dos chineses no mercado de veículos. A Renault, diz, tem até um grupo de pessoas na China para aprender com eles. Segundo o executivo francês, por meio de uma parceria com os chineses, a empresa conseguiu reduzir o tempo de desenvolvimento de um veículo de quatro anos para 23 meses.

O carro que, graças aos chineses, foi desenvolvido de forma mais acelerada pela Renault é o compacto Twingo elétrico, que está prestes a ser lançado na Europa. “Aprendemos muito, muito; desenvolvemos esse veículo com uma empresa chinesa”, afirma.

Segundo Segal, a Renault tem hoje na China uma equipe de 150 pessoas. “Eles não estão lá para vender carros; estão ali para entender, junto aos fornecedores, como os chineses fazem para conseguir um alto nível de competitividade”, destaca. “E estamos aprendendo”, completa.

O executivo lembra que há 30 anos, foram os chineses que aprenderam com os fabricantes ocidentais. Naquela época, montadoras europeias e americanas decidiram produzir na China. Mas o governo local impôs a obrigatoriedade de essas companhias fazerem joint ventures com empresas locais.

E foi assim que os chineses aprenderam a arte de produzir veículos em linhas de montagem. O movimento, agora, destaca Segal, segue caminho contrário. “Hoje aprendemos com eles como eles aprenderam conosco”, diz.

Para o executivo, a evolução da manufatura de veículos, pela China, não apenas interessa às marcas ocidentais, como, ainda, beneficia, mais ainda, os países que não adotaram medidas protecionistas contra os chineses, como é o caso do Brasil. “Aqui no Brasil muitas marcas chinesas vão poder produzir”, afirma. “As parcerias [com os chineses] trazem oportunidades de desenvolvimento de novas plataformas”, completa.

Renault e a chinesa Geely acabam de formalizar uma joint venture que será controlada pela montadora francesa. Um dos objetivos da parceria é a cooperação entre ambas para vender e, futuramente, produzir veículos no Brasil. Os modelos elétricos, uma especialidade chinesa, está no foco da Renault nesse acordo.

Os detalhes dos planos para futura produção de veículos da marca chinesa no Brasil ainda passam pela análise e autorização de ambas as partes e também dos órgãos regulatórios, segundo Ariel Montenegro, que a partir da próxima semana assumirá o cargo de presidente da Renault do Brasil.

Segal, que já foi presidente da Citroën no Brasil, veio ao país esta semana para participar do lançamento mundial do Boreal, um SUV médio que será produzido apenas em São José dos Pinhais (PR) e Turquia e vendido em 71 países.

O Brasil tem papel relevante no grupo Renault, que hoje registra 40% das vendas fora da Europa. O Brasil representa, para a montadora, o maior mercado depois da França. A Turquia aparece em terceiro, a Argentina em oitavo e a Coreia em nono.

No Brasil, a Renault tem renovado a linha de produtos de forma radical, a partir de uma nova plataforma. As mudanças no perfil dos modelos da marca absorveram grande parte do programa de investimentos de R$ 5,1 bilhões para o período de 2021 a 2027.

Um dos principais lançamentos dessa nova fase foi o Kardian, um SUV compacto produzido apenas no Brasil e Marrocos. Com o modelo, a marca, que ocupa o sexto lugar no mercado brasileiro, conseguiu, no primeiro semestre, aumentar as vendas em 9%, acima dos 5,05% do mercado.

O aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos não preocupa Segal. “Não temos atividade nos Estados Unidos e nem na China; então somos um pouco protegidos”, destaca.

Para fugir das oscilações de tarifas, o executivo defende a descentralização da produção. Segundo ele, ao lado de Índia, Coreia, Colômbia, Argentina, Turquia e Marrocos, o Brasil tem se tornado um importante centro de produção e exportação da marca.

A aproximação dos chineses é um novo capítulo na história de parcerias da Renault, depois do enfraquecimento da aliança que tem com a Nissan desde 1999.

Em março, Renault e a Nissan concordaram em ajustar a parceria, abrindo caminho para venda de ações. O acordo reduziu a participação mínima com direito a voto que cada empresa deveria manter de 15% para 10%. Segal não entra em detalhes sobre a aliança. Ele diz que todos os acordos com a empresa japonesa foram cumpridos.

O Minaspetro divulga notícias de outros veículos como mera prestação de serviço. Esses conteúdos não refletem necessariamente o posicionamento do Sindicato.
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