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Setor de petróleo e gás financia transição energética

09/12/2024

Fonte: Poder 360

O aumento da demanda por energia exigirá cada vez mais investimentos em PD&I (pesquisa, desenvolvimento e inovação). No Brasil, o setor de petróleo e gás é o principal financiador desses pilares. Conforme o estudo “O papel do setor de petróleo e gás natural na transição energética”, da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a indústria contribui com cerca de 60% dos investimentos em PD&I relacionados à transição energética no país. O percentual representa mais de R$ 10 bilhões aplicados desde 2013.

Só no ano passado, 20% do valor investido por meio de cláusulas de PD&I dos contratos de exploração e produção foi destinado a projetos de eficiência energética e fontes renováveis, o que corresponde a R$ 780 milhões. As principais áreas beneficiadas foram biocombustíveis (35%), energia eólica (28%), hidrogênio (13%) e captura e armazenamento de carbono (9%), segundo informações do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás).

“A indústria está sustentada na inovação e na pesquisa. O progresso que nós tivemos ao longo da história é basicamente de natureza tecnológica, e isso foi realizado com muitas pesquisas e recursos direcionados. No Brasil, por exemplo, nós temos centros em praticamente todas as universidades, financiados pelo setor de óleo e gás”, explicou o presidente do instituto, Roberto Ardenghy.

Ele explica que esses investimentos são fundamentais, principalmente ao considerarem as particularidades e os potenciais brasileiros rumo ao processo de descarbonização. E complementa que a campanha “Energia da evolução”, lançada pelo IBP, defende exatamente isso:  um aperfeiçoamento energético gradual, justo, seguro e inclusivo, para descarbonizar a economia e promover o desenvolvimento socioeconômico de forma simultânea.

O presidente do instituto afirma ainda que algumas tecnologias ligadas à produção de energia renovável são “filhas” do setor. É o caso da energia eólica offshore, ou seja, da produção de energia elétrica a partir de turbinas movimentadas pelo vento e instaladas em oceanos.

A tecnologia permite a eletrificação das plataformas de extração de petróleo, a partir de uma fonte renovável. De acordo com Ardenghy, as refinarias, que realizam a limpeza e o refino do óleo bruto, também têm unidades de produção de hidrogênio e dominam a manipulação, o transporte e o processamento do gás.

Nesse sentido, a capacidade de investimento e inovação é 1 dos 4 elos do setor para a solução dos desafios climáticos, conforme o estudo da EPE. Os outros 3 eixos são: segurança energética, experiência em projetos intensivos em capital, e adaptação e reutilização de infraestruturas.

Ao considerar a segurança energética, a indústria é responsável por 45% do abastecimento energético do Brasil, segundo dados fornecidos pelo IBP. Mundialmente, esse índice é superior a 50% e deve continuar nesse patamar pelo menos até 2050, de acordo com o último relatório World Oil Outlook, da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Já o 3º eixo –experiência em projetos– está interligado aos demais pontos, pois diversos projetos de descarbonização exigem operação de indústrias de rede, captação de recursos em larga escala e grandes estruturas –hoje usadas para óleo e gás, mas cujo potencial pode ser aproveitado para o transporte ou armazenamento de hidrogênio e CO2, por exemplo.

“Com um histórico sólido de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o setor de óleo e gás possui expertise para impulsionar inovações e enfrentar os desafios da transição energética”, disse Ardenghy.

Segundo o presidente do IBP, o setor tem experiência em projetos de grande porte e complexidade, como a exploração de petróleo em águas profundas. De acordo com ele, isso demonstra a capacidade da indústria de financiar e gerenciar iniciativas de longa duração.

Além disso, a reutilização de infraestruturas se mostra uma estratégia eficiente para acelerar a transição energética, reduzindo custos e otimizando recursos”, afirmou.

SETOR ESTRATÉGICO

No último ano, o Brasil registrou recorde na produção de petróleo e gás natural, com uma média de 4,3 milhões de barris por dia, a mais alta até então, segundo dados consolidados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). A maior parte (75%) teve origem no pré-sal.

Considerado o 8º maior produtor mundial de petróleo em 2023, o Brasil deve produzir mais e atingir 5 milhões de boe/dia até 2030, segundo projeções do IBP. O crescimento será impulsionado principalmente por novas descobertas e investimentos contínuos no pré-sal, que seguirá como a principal fonte produtiva do país, segundo o presidente Roberto Ardenghy.

No mundo, a demanda também deve crescer. O panorama da Opep prevê um aumento de 17% até 2050, atingindo 120 milhões de barris por dia. O maior consumo será consequência, principalmente, do crescimento populacional e econômico de países emergentes, além do maior uso na indústria petroquímica, no transporte rodoviário e na aviação.

Para suprir essa demanda, o World Oil Outlook estipula ser necessário um investimento médio de US$ 640 bilhões por ano. Só o Brasil deve investir US$ 173 bilhões até 2033 para expandir e melhorar a própria produção, estima o IBP. Um investimento que também deve sustentar cerca de 400 mil empregos ao ano no período, entre postos diretos e indiretos.

O impacto da indústria em indicadores socioeconômicos é uma das principais motivações da campanha para promover uma evolução energética segura e gradual. Atualmente, o setor de petróleo, gás e energia emprega 1,6 milhão de pessoas no Brasil, direta e indiretamente. A atividade também representa 17% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial do país.

“Esse percentual reflete a relevância do setor, não apenas na produção de energia, mas também na atração de investimentos, na criação de empregos e na arrecadação de tributos. A nossa indústria impacta diversas cadeias produtivas, impulsionando setores como a construção civil, metalurgia e tecnologia”, disse Ardenghy.

O estudo da EPE também mostra que, se o Brasil deixasse de investir na extração e produção de petróleo, haveria uma perda arrecadatória de quase R$ 4 trilhões de 2032 a 2055, sem considerar os prejuízos à balança comercial e demais efeitos macroeconômicos. Um cenário que poderia comprometer investimentos estratégicos.

Além disso, o documento indica que “deixar de produzir petróleo não implicaria na redução drástica das emissões nacionais”, pois os gases emitidos na exploração e produção do combustível fóssil correspondem a 5,5% do total das emissões do setor energético e a 1% das emissões nacionais. Segundo o relatório da EPE, “uma política dessa natureza aumentaria a vulnerabilidade do país”.

EVOLUÇÃO DAS ENERGIAS

Para equilibrar a maior demanda por energia e a busca por uma menor emissão de gás carbônico, a indústria de petróleo e gás explica que a matriz energética de cada país deve ser um empilhamento de diferentes fontes, incluindo as renováveis e as fósseis mais evoluídas, com uma pegada de carbono reduzida.

“É uma preocupação enorme que a transição energética não seja mais um motivo de desigualdade econômica e social, porque algumas tecnologias, apesar de serem mais sustentáveis e emitirem menos CO2, são muito mais caras e de difícil implementação por países em desenvolvimento”, afirmou o presidente do IBP.

Para garantir uma evolução energética equilibrada, o setor de óleo e gás tem focado na adoção de novas tecnologias e na melhoria dos processos produtivos. Para Ardenghy, trata-se de um esforço a ser reconhecido pela sociedade. Segundo ele, dentre as medidas adotadas estão a captura de CO2, a diminuição na emissão de metano e a eletrificação das plataformas de petróleo.

Nessa área, o “Radar de tendências em descarbonização para a indústria de óleo e gás”, do IBP, identificou o protagonismo mundial do Brasil, como o 4º país do mundo com mais artigos publicados sobre o tema de eletrificação de plataforma offshore.

Diante de transformações como essa, o IBP apresenta, na campanha Energia da Evolução, o conceito de “evolução energética” em vez de transição. Para Roberto Ardenghy, trata-se de um termo tecnicamente mais correto, porque carrega a ideia de justiça e equilíbrio.

O presidente do IBP acredita que, no futuro, o papel do petróleo como insumo produtivo aumentará em importância em diversas cadeias, em detrimento da utilização como fonte de energia. Para ilustrar a relevância do recurso natural, 85% dos objetos contidos dentro de uma casa brasileira têm o petróleo na composição ou produção, segundo Ardenghy.

“Por isso, sempre defendemos que deve haver a noção de equilíbrio e processo para os países evoluírem, atendendo aos anseios da sociedade. Não podemos correr o risco de a evolução energética ser um processo de geração de pobreza. Talvez o petróleo não continue tão forte na produção de energia, e se dedique a usos mais nobres, mas, de qualquer forma, continuará sendo um insumo importantíssimo. A indústria vai continuar”, afirmou.

*A contribuição do setor de óleo e gás para a arrecadação de mais de R$ 2,6 trilhões em tributos, citada no vídeo, abrange o período de 2009 até 2023. O valor foi recentemente atualizado para mais de R$ 2,8 trilhões. 

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