Revista Minaspetro destaca o avanço dos carros elétricos em Minas

Fonte: Revista Minaspetro

Frota elétrica pode dominar metade do varejo brasileiro até 2030

Apesar de ainda apresentarem preços superiores aos dos carros convencionais, as vendas de veículos elétricos e híbridos em Minas Gerais dispararam — 90 % de crescimento no 1º trimestre, quase o dobro da média nacional (46 %), segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Foram 4.271 emplacamentos no período, liderados pelos modelos híbridos (84 %). Belo Horizonte puxou a expansão, respondendo por 62 % das vendas estaduais e tornando-se a terceira cidade com mais emplacamentos no país, atrás de São Paulo e Brasília. No interior, Uberlândia, Juiz de Fora, Montes Claros e Uberaba somaram, juntas, quase 14,4 % do total.

Esse movimento de transformação da frota exige atenção dos revendedores de combustíveis. Especialistas preveem uma migração gradual para os modelos elétricos; quem acompanhar a tendência pode abrir novas oportunidades de negócio e ganhar competitividade.

O carro elétrico saiu da “bolha”?

Thiago Sugahara, vice-presidente da ABVE, lembra que há cinco anos os eletrificados representavam apenas 1 % do mercado nacional; em 2025 já ultrapassam 8 %, estimulados pela maior oferta de modelos — de híbridos convencionais a plug-ins e 100 % elétricos.

“Até 2022, dois terços dos eletrificados vendidos eram híbridos. A partir de 2023, os plug-ins e 100 % elétricos passaram a dominar, com 60 %-65 % de participação”, explica.

A confiança na frota elétrica cresce: projeções da Anfavea indicam que, até 2030, mais da metade do varejo brasileiro poderá ser dominada por esses veículos. Vantagens apontadas:

  • Eficiência — o motor elétrico gasta apenas ¼ a ⅕ do que consome um carro a combustão similar.

  • Energia mais barata — rodar a mesma quilometragem com eletricidade custa muito menos do que com gasolina ou etanol.

  • Recarga domiciliar — 80 % das recargas ainda são feitas em casa ou no trabalho, sem grandes investimentos em infraestrutura.

  • Autonomia em alta — já chega a 400 km em alguns modelos.

Em Minas Gerais, a infraestrutura de energia solar e a isenção de IPVA para modelos produzidos no estado reforçam o cenário de expansão.

Recarga elétrica: o próximo passo

A infraestrutura de recarga é hoje o principal gargalo. O Brasil possui cerca de 15 mil pontos públicos e semipúblicos, quase metade (49,6 %) no Sudeste; Belo Horizonte dispõe de 1.154.

Thiago Castilha, diretor de marketing da E-Wolf (fornecedora oficial de carregadores da BYD, líder do segmento com 32 % de participação), conta que o faturamento da empresa cresceu 200 % entre 2023 e 2024. O avanço se deve, entre outros fatores, ao aumento de carregadores rápidos de alta potência, que já correspondem a 13 % do total (eram 8 % em 2024).

O desafio da percepção do consumidor

O maior obstáculo agora é cultural:

  • Desconhecimento — “Muitos ainda não conhecem o produto, dizem que nunca vão usar sem sequer testar”, afirma Castilha.

  • Custo de entrada — continua elevado, mas vem sendo amortecido por incentivos das montadoras.

  • Pós-venda mais simples — não há troca de óleo ou filtros; a manutenção é mais barata e rápida.

“A melhor propaganda é o carro circulando na rua”, sintetiza Castilha.

Para ele, preço é só parte da equação: é preciso considerar toda a jornada do consumidor, da compra à adaptação ao novo modelo de uso. “Costumo dizer que o carro elétrico já é presente — a questão é quando cada motorista se sentirá pronto para fazer a transição.”

“O carro elétrico não é para todo mundo. Acredito muito no potencial desse modelo para ambientes urbanos. Para quem roda 40 ou 50 km por dia, a economia é grande e a experiência, confortável. Agora, quem viaja com frequência ou tem uma rotina mais imprevisível talvez se encaixe melhor em um modelo híbrido”, aponta.

Segundo ele, a experiência com o carro elétrico requer novos hábitos, como planejar o carregamento em casa ou no trabalho. Já na rua, o motorista depende de pontos de recarga, e despende cerca de 30 a 40 minutos no processo — o que exige paciência de quem está acostumado a encher o tanque em poucos minutos.

Oportunidades

No contexto atual, Thiago Castilha acredita que o tempo gasto no carregamento dos veículos elétricos pode representar uma oportunidade de negócio para os postos de combustíveis:

“Pode ser feita a oferta de serviços e conveniência enquanto o veículo recarrega. Ao permanecer no posto durante o tempo de carregamento, o cliente tende a consumir outros produtos e serviços”, explica.

Ele cita como exemplo o maior posto da Shell em Shenzhen, na China, onde o local conta com mais de duzentas operações de carregadores elétricos do mundo, com mais de 250 carregadores rápidos, e gera 50 % da receita com venda de café.

“Enquanto o veículo carrega, o cliente aproveita para tomar um cafezinho”, revela.

O CMO da E-Wolf também desmistifica a ideia de que os postos só podem cobrar pelo aluguel do espaço e pela rede de recarga dos automóveis.

“Isso já é realidade, pacífica e em grande escala. A Shell, por exemplo, já cobra pelo uso da energia”, afirma.

A regulamentação permite que os postos de combustíveis insiram carregadores elétricos e monetizem esse serviço, criando uma linha de negócios. No entanto, ele alerta sobre os riscos de acordos mal estruturados:

“Muitas vezes, o empreendedor só se preocupa em ceder o espaço para a recarga por uma verba básica. O empresário precisa ficar atento aos contratos, porque ele corresponde, muitas vezes, com sua base de negócio e com seus bônus”, explica.

Ele sugere que os postos considerem investir diretamente na infraestrutura de recarga, adquirindo carregadores de empresas idôneas e buscando fornecedores de software que atraiam mais clientes para o posto.

“Ao contrário do que muitos pensam, o retorno financeiro pode ser mais vantajoso, afinal, ele mantém o controle do negócio e, em vez de depender de terceiros, pode explorar seu espaço de maneira mais rentável e estratégica”, destaca.

Para ele, a mudança de mentalidade é fundamental nesse processo de transição gradual para a mobilidade elétrica:

“Aos poucos, o dono de posto começa a perceber que cada centímetro do seu território precisa ser explorado da forma estratégica. Afinal, os geradores de posto estão nas melhores esquinas do Brasil e precisam ser usados na sua localização”, comenta.


Transição Gradual

Sobre o futuro da mobilidade elétrica no Brasil, Thiago Castilha acredita que 2025 ainda não será o “divisor de águas” para a transição. No entanto, o avanço das marcas pode levar a um aumento da oferta de veículos elétricos, com a chegada de novas marcas e a consolidação de fábricas no Brasil, eliminando o impacto do imposto de importação e ampliando a oferta no mercado.

Além disso, no dia 18 de abril, o governo federal anunciou a regulamentação do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que estabelece metas de eficiência energética, reciclabilidade e segurança para os veículos fabricados no Brasil. A medida deve, junto das políticas públicas incentivais às montadoras a produzirem e comercializarem veículos mais eficientes, seja com motores elétricos ou híbridos. A tendência é que esse movimento impulsione tanto o lançamento de novas tecnologias quanto o consumo.

“Acho que 2026 vai ser um ano de consolidação de algumas dessas marcas e teremos maior certeza de qual caminho cada vez mais vai se consolidar. Mas eu, particularmente, não acredito em um mercado 100 % elétrico tão cedo”, afirma Thiago Castilha.

Na visão dele, a transição não vai eliminar os veículos a combustão do mercado, mas sim oferecer uma nova alternativa.

O carro elétrico é apontado como o potencial de negócio mais promissor no curto e médio prazo.

“O carro elétrico é uma grande oportunidade e dificilmente vai substituir o carro a combustão. Na minha opinião, é possível ganhar muito mais dinheiro com o carro elétrico do que com o híbrido, pois o híbrido não gera tanto retorno rápido e, com o tempo, diminui a venda de combustível. Se eu fosse revendedor hoje, começaria a entender melhor essa dinâmica”, conclui.

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