Quão verde é o meu diesel? A polêmica do combustível da COP30

08/12/2025

Brasil é um dos poucos países que utilizam veículo leve que pode rodar com combustível 100% de origem de biomassa, escreve Carlos Augusto Arentz Pereira

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És a um tempo, esplendor e sepultura:
ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela.

Esta é a primeira quadra do soneto Língua Portuguesa, do príncipe dos poetas parnasianos brasileiros, Olavo Bilac.  Este soneto, forma preferida pelos poetas parnasianos, guarda uma série de características fundamentais ao movimento, como o uso de linguagem culta, descrições detalhadas e rigor na métrica e nas rimas.

Com a metáfora do primeiro verso, Bilac afirma que a Língua Portuguesa foi a última língua neolatina originária do latim vulgar falado na região italiana do Lácio.

No segundo verso, exalta a nova língua, descendente do latim, em esplendor, com o uso em ascensão. 

Mas, ao mesmo tempo em que a língua portuguesa tem seu uso mais disseminado, acaba por promover a morte do latim levando a sua sepultura.

Nos últimos versos, realça que o português — da mesma forma que o latim vulgar, como uma matéria bruta minerada — também estaria sendo lapidado pelo uso. 

Qual a relação disso com a questão de diesel e o Diesel R? Entre as riquezas que a língua portuguesa apresenta, citamos as palavras polissêmicas, aquelas que têm mais de um significado, mas que compartilham uma origem etimológica comum.

Algumas vezes, são termos que adquiriram significados diferentes ao longo do tempo. O próprio último verso da quadra tem um exemplo disso.

“Vela” pode significar uma peça composta de um combustível sólido cuja chama serve para iluminar, tecido forte e resistente que se prende a uma estrutura para capturar a energia dos ventos como embarcações e moinhos, um elemento de matéria porosa, que serve para purificar a água, a medida física de intensidade luminosa ou ainda uma peça do motor de combustão ciclo Otto a carburação.

Porém, no caso específico do poema, trata do ato de permanecer em vigília, vigiar, guardar — os cascalhos guardavam a matéria bruta.

Fique explícito, portanto, que o próprio significado varia com o tempo, a tecnologia e a visão da sociedade sobre o tema. Assim, podemos afirmar que, no Brasil, somente pode ser denominado de diesel o produto comercial que atende aos parâmetros da legislação vigente.

Atualmente no país, pode ser considerado diesel pronto ao consumo final, um produto que tenha adição no mínimo de 15% de biodiesel e de acordo com a resolução da ANP de primeiro de agosto de 2025.

Portanto, o produto que a Petrobras de forma tão orgulhosamente anunciou estar fornecendo para transporte rodoviário e geração de energia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) tem, potencialmente, 25% de carbono de origem não fóssil.

Ao realizar o coprocessamento de biomassa em suas unidades de processo, os hidrotratamentos de diesel, além de atender o teor máximo legal de enxofre, a empresa efetivamente reduz adicionalmente a quantidade de carbono fóssil na parcela mineral do diesel.

Em tempo: o chamado Diesel R, do mesmo modo que Diesel A, são produtos comercializados apenas para distribuidoras de combustíveis, que abastecem postos em todo o país sendo destinados à formulação de Diesel B no Brasil.

Isto somente corrobora o fato que quando tratamos de diesel, como produto final no Brasil, obrigatoriamente teremos a adição de biodiesel.

Alguns comentários adicionais, apenas de intuito didático.

O óleo diesel mineral é uma mistura complexa de hidrocarbonetos (compostos apenas com carbono e hidrogênio), obtida a partir do refino do petróleo, enquanto o biodiesel é composto por ésteres alquílicos de ácidos graxos obtidos pela transformação química dos triglicerídeos existentes na biomassa, principalmente óleos vegetais e gorduras animais.

Foi adotado por convenção denominar-se biodiesel ao produto obtido pelo processo de esterificação de biomassa, onde as gorduras são decompostas e reagem com metanol para produzir um produto final semelhante ao diesel.

Portanto o biodiesel puro (B100) é um combustível composto 100% por ésteres de ácidos graxos derivados de óleos vegetais ou gordura animal.

Este composto difere da composição química do diesel mineral para o qual os motores diesel são projetados.

Assim, o biodiesel puro, além de oferecer benefícios na eliminação de emissões de gases de efeito estufa, também reduz emissões de alguns outros poluentes.

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