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Carregador na garagem: eletromobilidade avança em Minas e impacta mercado imobiliário
01/09/2025
Crescimento de veículos elétricos e híbridos pressiona construtoras a adaptar condomínios com carregadores e infraestrutura reforçada
A frota de veículos elétricos e híbridos em Minas Gerais cresce de forma acelerada nos últimos anos. Esse avanço da eletromobilidade tem impactado diretamente o mercado imobiliário, elevando a demanda por carregadores em imóveis, sobretudo em condomínios residenciais. A instalação desses equipamentos já se configura como diferencial competitivo para as construtoras.
Entre janeiro e julho de 2025, as vendas de carros elétricos em Minas Gerais cresceram 143,97% em relação ao mesmo período de 2024, passando de 5.711 para 13.933 unidades. O volume já supera em 28,03% o recorde registrado ao longo de todo o ano passado (10.883). Os dados são da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
A professora de Engenharia Elétrica do Centro Universitário FEI, Michele Rodrigues, ressalta o impacto dos números no setor imobiliário. “Minas Gerais consolida-se como o segundo maior mercado de veículos eletrificados do Brasil, o que reforça a urgência da preparação de condomínios e empreendimentos imobiliários”, afirma.
A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) também considera essa tecnologia estratégica para o processo de transição energética. É o que afirma o gestor de inovação em eletromobilidade da empresa, Franz de Cassias Strobel, ao citar a criação de um núcleo específico para esse segmento dentro da companhia.
Strobel também menciona ações como a aprovação do projeto de lei que determina a isenção do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para carros elétricos e híbridos plug-in na região.
“O Estado está se preparando bem para esse cenário de transição energética e eletromobilidade, que tende a crescer ainda mais”, ressalta.
Construtoras mineiras já se adaptam
O primeiro vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Bruno Magalhães, avalia que o Estado está entre os mais bem preparados e avançados no movimento de eletromobilidade. Segundo ele, construtoras mineiras já vêm se adaptando para atender à demanda, oferecendo vagas para carros elétricos nas áreas comuns dos condomínios ou até uma vaga por apartamento.
“Acredito que estamos acompanhando essa tendência de mercado em tempo, sem deixar nada a desejar em relação a outros estados ou capitais, no caso de Belo Horizonte”, avalia.
Além de ocupar a vice-presidência do Sinduscon-MG, Magalhães é diretor executivo da Construtora Terrazzas. Segundo ele, a empresa já trabalha há mais de três anos para se adaptar a essa realidade, oferecendo vagas para veículos elétricos em todos os prédios.
Outra empresa que se adapta a essa realidade é a Somattos Engenharia. A coordenadora de novos projetos, Bruna Pereira, relata que a maioria dos empreendimentos da empresa já conta com vagas exclusivas para veículos elétricos e híbridos, seja com carregador instalado ou com infraestrutura preparada para futura instalação.
Demanda cresce também em imóveis menores
O crescimento da demanda é mais evidente no segmento de imóveis de luxo, explica a vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e do Sindicato da Habitação de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Flávia Vieira. Ela ressalta que a mudança é uma tendência mundial: “O mercado dita as regras; ele pede e nós temos que acompanhar. Isso faz parte do momento em que vivemos”.
Já Bruna Pereira avalia que a demanda deixou de ser exclusiva de imóveis de luxo e maiores, estendendo-se também a empreendimentos menores, com até dois dormitórios. Ela destaca ainda o aumento da procura entre consumidores mais jovens por condomínios equipados com carregadores para veículos eletrificados.
“Há uma demanda crescente por empreendimentos com carregadores instalados, especialmente entre o público jovem, que valoriza muito a sustentabilidade nos condomínios”, pontua.
Necessidade de adaptação técnica e de segurança
Para Bruno Magalhães, empresas que não se adaptarem à eletromobilidade ficarão cada vez mais atrasadas em relação às que já avançam nesse movimento. Ele ressalta o crescimento dos carros híbridos plug-in nos últimos anos, impulsionado pela chegada de novas marcas ao mercado nacional. “Quem não se adaptou está atrasado”, afirma.
Em Minas Gerais, os veículos híbridos leves com bateria de 12 volts (MHEV 12V) respondem por 48% das vendas neste ano. Em seguida vêm os híbridos elétricos plugáveis (PHEV) e os elétricos a bateria (BEV), com 23% e 15% de marketshare, respectivamente. Outro destaque é o híbrido elétrico (HEV), que representa 8% das unidades comercializadas em 2025.
O aumento da frota de carros elétricos e híbridos no Estado também impacta o mercado imobiliário sob o ponto de vista comercial. O dirigente do Sinduscon-MG observa que o público tem “olhado com bons olhos” para imóveis estruturados com recarga para veículos elétricos. “Isso é um caminho sem volta para as edificações”, acrescenta.
Ele acrescenta que os esforços não podem se restringir a oferecer apenas um ponto de recarga no imóvel. É necessário dimensionar a carga elétrica de todo o prédio e preparar as vagas especiais para que contem, no mínimo, com um carregador por apartamento.
Além disso, o empresário ressalta a importância de que medidas como essas já estejam previstas nos projetos das novas edificações. Magalhães explica que carregadores exigem maior capacidade elétrica do condomínio, bem como preparação adequada das garagens e vagas.
Essa adaptação também se estende aos empreendimentos mais antigos, que demandam ainda mais cuidados no desenvolvimento dos projetos. É necessário, por exemplo, adotar medidas específicas para reduzir o risco de incêndio e outros imprevistos.
Por isso, segundo Magalhães, o Corpo de Bombeiros desenvolve normativas e técnicas a serem implementadas em todo o País para prevenir problemas decorrentes do aumento de carros elétricos e de vagas destinadas a esses veículos nos prédios.
A professora da FEI ressalta que a instalação de pontos de recarga deve obedecer estritamente às normas técnicas, como a ABNT NBR 17019:2022, a série IEC 61851 e a IEC 62196. Portanto, é necessário atenção especial à forma como a infraestrutura interna das garagens é projetada.
Novas normas
O Conselho Nacional de Comandantes-Gerais dos Corpos de Bombeiros Militares (Ligabom) publicou, neste mês, a Diretriz Nacional sobre Ocupações Destinadas a Garagens e Locais com Sistemas de Alimentação de Veículos Elétricos (Save). O documento estabelece normas e parâmetros mínimos de segurança contra incêndio e controle de riscos em áreas com carregadores, podendo servir de referência para o setor da construção civil.
No entanto, a ABVE destacou pontos que preocupam o setor de eletromobilidade. Em nota, a entidade reconhece avanços no texto, mas ressalta que a diretriz propõe medidas de difícil aplicação técnica e econômica para a maioria dos edifícios, além de restringir as normas apenas às garagens com Save.
Tendências e perspectivas para os próximos anos
Com a expansão da eletromobilidade no mercado brasileiro e sucessivos recordes de vendas mensais, o setor imobiliário é impelido a adotar mudanças. “Esse crescimento pressiona a adaptação das edificações residenciais, que precisarão oferecer soluções técnicas para atender à nova demanda de energia”, explica Michele Rodrigues.
Para os próximos anos, Flávia Vieira acredita que o desempenho do mercado de veículos elétricos e híbridos será determinante. Se a tendência de crescimento persistir, afirma, o mercado imobiliário estará preparado para atender à demanda.
A vice-presidente da CMI/Secovi-MG ressalta que o segmento de carros elétricos ainda enfrenta barreiras, como o custo elevado de alguns modelos e a baixa oferta de carregadores. Além disso, há outros fatores que podem impactar as vendas desse tipo de veículo em Minas Gerais e no restante do País, como as preferências dos consumidores.
“O mercado é quem vai definir. Hoje, construtoras e incorporadoras já estão atentas e preocupadas em oferecer esse diferencial. Quanto ao estoque de imóveis prontos, será necessário elaborar soluções em cada condomínio para atender às necessidades dos moradores”, conclui.
