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Empresário acusado de ligação com PCC comprou usinas em difiduldades financeiras
01/09/2025
A megaoperação deflagrada nesta quinta-feira (28/8) por uma força-tarefa de diversos órgãos de investigação federais e estaduais acusou o empresário Mohamad Hussein Mourad, que teria relações com o PCC, de ter comprado as usinas de cana-de-açúcar Itajobi e Carolo, que estavam em dificuldades financeiras, para usá-las como peça central de um esquema de “fraudes fiscais estruturadas” lavagem de dinheiro. As informações constam no processo do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), ao qual a reportagem teve acesso.
Segundo Márcia Meng, superintendente da 8° região fiscal da Receita Federal, nas usinas que não foram adquiridas pela facção, os atuais sócios foram “sequestrados” e são “reféns” da facção.
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) disse que há indícios de que o empresário também pode ter comprado outras empresas do setor, como as usinas Rio Pardo, Furlan e Comanche. Em comum, todas essas usinas passaram por dificuldades financeiras durante a crise do setor da década passada.
A primeira usina adquirida foi a Itajobi. Mourad comprou a usina por meio do FIDC Mabruk II, gerido pela Reag, comprometendo-se a quitar as dívidas da empresa e indenizar as propriedades arrendadas para assumir 100% de suas ações. A reportagem apurou que a empresa estava prestes a pedir recuperação judicial quando foi adquirida pelo fundo.
Já a Carolo foi comprada pelo Fiagro Participation, também de Mourad, mesmo após ter saído de uma recuperação judicial. Ele teria utilizado os fundos para ocultar sua participação nos negócios. Porém, o empresário era visto nos escritórios das usinas com frequência, afirmou à reportagem uma fonte próxima a uma das empresas.
A investigação apontou que as usinas adquiridas por Mourad teriam praticado sobrepreço na compra de cana, o que pode indicar um esquema de fraude fiscal, em que os “preços dos insumos são inflados artificialmente para sonegar impostos e obter créditos indevidos”, explicou o Gaeco. Também há “suspeita de movimentação financeira sem lastro” nas contas das usinas Itajobi e Carolo.
Pela denúncia, outras usinas da região de Catanduva (SP) podem ter sido compradas pelo empresário e foram usadas no esquema de ocultação de patrimônio e fraudes. Segundo o Gaeco, a Usina Rio Pardo “foi aparentemente recentemente adquirida” por Mourad.
Duas pessoas ligadas ao empresário passaram a figurar no quadro societário da Usina Rio Pardo: Henrique Dalkirane Filho e Jomar Maurício Fornielis das Chagas, que também aparecem ligados à Usina Itajobi.
Outro indício de que Mourad poderia ser sócio oculto da Usina Rio Pardo é a identificação de sobrepreço na aquisição de cana-de-açúcar a partir de 2022. “Isso reforça os indícios da assunção da usina pelo grupo investigado”, afirma a denúncia.
Quanto à Usina Furlan, o Gaeco afirma que “embora não tenha tido sua aquisição direta pelo grupo Mohamad inicialmente identificada, apresenta diversos elementos que sugerem uma forte associação ou um processo de aquisição/controle em andamento por parte da organização criminosa”.
A distribuidora de combustíveis Duvale e a fintech BK, que fariam parte do esquema de Mourad, teriam enviado valores “significativos” à Usina Furlan, como uma transferência de R$ 3.667.000,00, e outra de R$ 4.919.900,00. Segundo a denúncia, essas transferências são “um forte indicativo de lavagem de capitais”. Outro indício a respeito da Usina Furlan é a prática de compra de cana-de-açúcar com sobrepreço a partir de 2022.
Mais uma usina que o Gaeco suspeita que possa ter sido adquirida pelo grupo de Mourad ou que possa estar em processo de aquisição é a usina Comanche. Ela foi a maior destinatária de etanol produzido pela Usina Itajobi e pela Usina Carolo, e teria vendido etanol para várias distribuidoras do grupo de Mourad.
A última empresa que estaria dominada pelo esquema criminoso é a Goiás Bioenergia, que segundo a denúncia é registrada como uma produtora de etanol, mas é uma empresa de fachada. Segundo a denúncia, a Goiás Bioenergia está no nome de duas laranjas: Maria Edenize Gomes e Ellen Bianca de Franca Santana Resende.
Investida sobre a GVO
O empresário ainda estaria em uma investida para tomar o controle das usinas do Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), que está em recuperação judicial e com duas usinas em leilão. Segundo a denúncia, Mourad já teria adquirido, por meio do fundo Mabruk II, créditos bancários da GVO com garantia real para se colocar no polo credor.
O empresário também utilizou o fundo Celebration para acertar um contrato de parceria agrícola com a GVO, “apossando-se de propriedades rurais” de cana nas regiões de Catanduva e Itapira.
A reportagem apurou que a Usina Itajobi arrendou a usina da GVO de Catanduva na safra passada (2024/25), operando-a após anos parada, e devolvendo-a ao fim do ciclo.
A reportagem tentou contato com representantes das usinas Itajobi, Carolo, Furlan, Comanche e GVO, sem sucesso. A reportagem não conseguiu contato de representantes das Usinas Rio Pardo e Goiás Bioenergia.
Com base nas informações coletadas, Meng, da Receita Federal acredita que há possibilidade de desdobramentos da operação em breve e com chance de mais usinas nas investigações. “Eu acredito que com a quantidade de documentos que apreendemos nesses locais, em breve, eu diria antes do final do ano, vamos ter outras operações nesse mesmo sentido”, estimou.
Mourad e PCC
Ainda segundo a denúncia, Mourad e o PCC “se beneficiam do ecossistema de lavagem de capitais facilitado pela atuação nas usinas e no setor de combustíveis”. Todas essas usinas passaram a estabelecer relações de venda de combustível com distribuidoras que foram identificadas como agentes do esquema de lavagem de dinheiro, além de passaram a utilizar a fintech BK para movimentar recursos financeiros.
A denúncia aponta ainda que há outras “pessoas chave” que estão envolvidas na compra e gestão dessas usinas: Walter Martins Ferreira III, Henrique Dalkirane Filho, Ramon Pessoa Dantas, Silvano Gersztel e João Carlos Falbo Mansur. Mansur é sócio da gestora Reag, que administrava alguns fundos de Mourad, e que foi alvo das operações de busca e apreensão desta quinta-feira.
