A confiança do varejo e do setor de serviços perdeu força em setembro. No primeiro caso, o Índice de Confiança do Comércio (Icom), que havia subido 2,2 pontos em agosto, caiu 2,6 pontos neste mês, para 92,2 pontos, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Já o Índice de Confiança de Serviços (ICS), também da FGV, perdeu 0,5 pontos em setembro, para 96,9 pontos.
Para Rodolpho Tobler, economista da FGV responsável pelo dado do comércio, a queda sinaliza demanda varejista mais enfraquecida no terceiro trimestre. Nem em mesmo boas notícias no cenário macroeconômico — o que favorece compras – impediram cautela elevada no mês, entre empresariado do setor, segundo ele.
O especialista pontuou que tanto as respostas sobre momento presente quanto as relacionadas ao futuro na Sondagem do Comércio – pesquisa da qual o Icom é indicador-síntese – tiveram recuo, em setembro.
Tobler lembrou que, mesmo com cortes na Selic, o patamar de juros básicos no país ainda continua elevado, em dois dígitos.
Além disso, no caso do varejo, ele disse que há um componente a mais, a influenciar para baixo a demanda varejista no terceiro trimestre: uma possível antecipação de compras, de duráveis, durante o segundo trimestre. No período, o governo federal lançou programa de incentivo à indústria automobilística, com possibilidade de carros com desconto na venda. Isso pode ter concentrado venda de veículos no segundo trimestre.
No setor de serviços, os empresários estão cautelosos quanto ao ritmo de negócios para os próximos meses. Segundo Stéfano Pacini, economista da FGV, há percepção de que a demanda no segmento dá sinais de acomodação, após meses de retomada, em cenário pós-pandemia. Para ele a queda de 0,5 ponto foi uma “calibragem” no desempenho do indicador de confiança, impulsionado por expectativas menos favoráveis.
O técnico lembrou que, diferentemente de outros setores, serviços têm mostrado resiliência. Desde 2022, empresas da área têm sido impulsionadas por fenômeno chamado “demanda reprimida no pós-pandemia”. Isso porque o segmento foi mais afetado pela crise sanitária originada da covid-19, a partir de 2020. Em 2022 a economia de serviços cresceu 4,2% em 2022, no Produto Interno Bruto (PIB).
Mas, a atividade de serviços não poderia continuar a crescer de forma expressiva indefinidamente, frisou Pacini. Isso levou a muitos analistas preverem queda brusca na atividade em 2023. “Porém, isso também não ocorreu”, notou o técnico, a mencionar que serviços continuou em alta no PIB, nos primeiro e segundo trimestres.
Entretanto, os sinais delineados no ICS de setembro, indicador síntese da Sondagem de Serviços do mesmo mês, elaborada pela FGV, é que o terceiro trimestre dá sinais de arrefecimento na demanda pela atividade.
No entanto, quando questionado se o indicador pode continuar a cair, o economista foi cauteloso. “Creio que é cedo para dizer que temos estagnação na demanda, é cedo para dizer que ‘virou o sinal’ [da confiança de positivo para negativo]. Temos que observar a trajetória do indicador para os próximos meses.”