Tendência de baixa do petróleo favorece combate à inflação

14/08/2025

Fonte: Valor Globo

Com produção em alta e demanda em baixa, haverá excesso de petróleo no mercado no último trimestre do ano, que deverá se prolongar por parte de 2026, segundo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgado ontem. Em abril e maio os preços internacionais do óleo encostaram nos menores valores dos últimos quatro anos, e, no ano até ontem, recuaram 12%. A fraqueza das cotações no segundo trimestre ajudou a Petrobras a reduzir o custo doméstico da gasolina e do diesel em julho. A superoferta é uma boa notícia para o combate à inflação nos próximos meses, se nenhuma surpresa ocorrer nos mercados – algo impossível de garantir na mais “geopolítica” das commodities.

A volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos e o início de sua guerra tarifária mudaram o jogo das commodities. O protecionismo americano contribuirá para reduzir o crescimento global, em especial na China e nas economias dinâmicas do Sudeste Asiático, boa parte delas atingidas em cheio pela taxação de suas competitivas exportações ao mercado americano.

A volubilidade das ambições de Trump no xadrez político global afeta diretamente o mercado de petróleo. Sua dança indecisa de aproximação e repulsa em relação à Rússia fez vítimas certas, como a Índia, que ganhou 50% de tarifas por ser a maior compradora do petróleo russo escoado por mar. As ameaças de sanções contra a Rússia e quem compra petróleo dela mal passaram disso até agora – o que pode mudar após encontro com o presidente Vladimir Putin no Alasca, amanhã. Há um risco de ampliação do cerco às exportações russas, e o castigo despejado sobre a Índia pode ser estendido ao Brasil, cujo petróleo escapou da tarifa adicional de 40% que passou a vigir em 6 de agosto.

A redução do crescimento econômico global fez a AIE diminuir em um terço, para 680 mil barris por dia, a previsão de aumento da demanda de petróleo em relação à realizada no início do ano, no que é a menor expansão desde 2009, no início da grande crise financeira de 2008. A oferta, por outro lado, vai aumentar em 2,5 milhões de barris por dia no ano, 30% maior que a previsão de janeiro. O aumento se deve em grande parte à ação do cartel da Opep+, que voltou a aumentar a produção, após um corte de 2,2 milhões de barris acertado em janeiro de 2024. Como parte dessa elevação gradativa, o cartel aumentará a produção em 547 mil barris por dia a partir de 1 de setembro.

Essa grande disparidade entre procura e oferta fez a Agência prever um “grande excesso” de petróleo a partir do fim do ano, com “sobra” de 2 milhões de barris diários que se estenderá por 2026. Além disso, joga a favor de cotações mais baixas o contínuo aumento dos estoques. Em junho, eles subiram pelo quinto mês consecutivo, totalizando 7,8 bilhões de barris, o maior volume em quase 4 anos (46 meses).

A AIE aponta que um aperto nas sanções contra a Rússia e Irã poderá reduzir o excesso de oferta previsto. No entanto, isso pode não ocorrer na magnitude esperada. A Rússia e o Irã encontraram mercados cativos mesmo com o cerco americano e europeu (no caso russo). China e Índia compram grandes quantidades do óleo russo. Apenas até junho, a Índia adquiriu US$ 19,5 bilhões, e, desde a invasão da Ucrânia, dispendeu US$ 137 bilhões nisso (FT, 8 de agosto). Dificilmente esses países deixarão de continuar a se abastecer com o óleo de Putin para satisfazer o desejo de um rival cada vez mais agressivo, Trump.

Até 2030, enquanto a oferta crescerá, a procura encontrará mais freios decorrentes da transição energética. Um em cada 4 veículos novos vendidos em 2025 é elétrico, em uma frota que atingirá no ano 20 milhões de carros que dispensam combustíveis fósseis. Até o fim da década, a AIE estima que eles substituirão o equivalente a 5,4 milhões de barris por dia de petróleo.

Por outro lado, a China, o segundo maior consumidor mundial (depois dos Estados Unidos) e o maior poluidor mundial, tem feito esforços para reduzir suas emissões de carbono. Como resultado, seu consumo em 2030 será, segundo a AIE, apenas marginalmente superior ao que foi em 2024. Os EUA continuarão um consumidor voraz de petróleo. Com a queda de venda de veículos elétricos no país, e o desmonte dos incentivos para sua expansão por Donald Trump, a produção de óleo deverá aumentar 1,1 milhão de barris por dia ao ano. Já a produção mundial pulará dos atuais 105,6 milhões para 114,7 milhões de barris por dia.

O cartel dos países produtores (Opep) e alguns associados, como a Rússia, na Opep+, deverão continuar produzindo mais. “Se a oferta continuar no ritmo corrente, enquanto a demanda se retrai, o suprimento de petróleo aumentará para 107,2 milhões de barris por dia em 2030, 1,7 milhão de barris a mais que a procura projetada, sugerindo que os preços terão de cair para prevenir um insustentável acúmulo de estoques”, avalia a AIE.

No curto prazo, o panorama do petróleo tem uma feição baixista, que poderá permitir à Petrobras realizar mais cortes tempestivos de preços de um dos itens que mais influência têm nos índices de inflação.

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